Terreno em São Bernardo abriga 12 mil sem teto que sonham ter uma casa
Desde o dia 2 de setembro, um terreno de 75 mil metros quadrados, abandonado há 40 anos, na Vila Planalto, em São Bernardo do Campo, transformou-se no lar de milhares de famílias que lutam por moradia em São Paulo. Hoje a ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) já abriga 12.136 pessoas que lutam para que a prefeitura negocie a posse do terreno e viabilize o sonho construir habitações populares em um grande condomínio. Na última contagem, havia lá quatrocentas crianças que frequentam escolas do bairro.
De acordo com o líder Claudio Rocha, a área foi escolhida por ter grande dimensão e porque na região há um alto déficit habitacional. Estes são os critérios do movimento na escolha dos terrenos que serão ocupados. “Quando entramos na ocupação, estávamos em novecentos militantes do MTST. A primeira coisa que nos preocupamos foi construir uma cozinha coletiva. Depois de quatro dias, já havia seis mil pessoas e uma única cozinha. Em um dia, só no almoço, foram cozidos 136 quilos de arroz. Depois que mapeamos o acampamento e cadastramos as famílias, cada grupo construiu sua cozinha. Na frente da ocupação, foi puxado um cano, por onde conseguimos água”, relata.
A militante Joana Darc Nunes, que também está lá desde o início, conheceu o MTST em outra ocupação, já vitoriosa. ”Quando participei do Rosa Luxemburgo, em Santo André, fiz um barraquinho, mesmo desacreditando que daria certo. Fui conhecendo a história, vi que é muito justa, quis fazer parte dela. O projeto lá está em fase da liberação da verba para construção das habitações, mas só termos conseguido a posse do terreno depois de um mês já é muita coisa”, afirma.
A ocupação recebe solidariedade de apoiadores da luta por moradia. Como não aceitam doações em dinheiro, arrecadam basicamente alimentos, roupas e itens de higiene ou mão de obra. Embora a ocupação esteja fechada, pois não tem mais espaço físico disponível para novos barracos, as lideranças são incapazes de recusar ajuda a alguém que não tenha alternativas. “Ontem mesmo um rapaz que estava morando na rua depois que perdeu o emprego chegou aqui, com os pés machucados de andar, sem banho, faminto. Quando chegou, falei que estava fechada, mas ele me disse: ‘pra onde eu vou’? Então o acolhemos, dormiu aqui neste barracão e hoje já foi para a manifestação”, conta Rocha.