Residente é um rapper porto-riquenho que é revolucionário no que faz, não apenas pelas letras profundas e impactantes que protestam contra todo tipo de injustiça, mas também pela forma como desenvolve o próprio trabalho. O seu projeto mais recente que está sendo lançado foi feito através de uma viagem pelo mundo. Nome artístico de René Pérez Joglar, Residente realizou uma exame de DNA para saber de onde vinham seus antepassados e decidiu ir a todos esses lugares e, em cada um deles, gravar suas canções e os sons feitos por músicos locais.

O projeto não apenas rendeu novas músicas como um documentário intitulado Residente que retrata o processo de criação das músicas. Do filme, só está disponível o trailer no youtube. Já o CD pode ser ouvido pela internet em diferentes plataformas digitais. O rapper está indicado para nove prêmios no Grammy latino.

Para se ter uma ideia do processo de imersão do compositor, ele escreveu e gravou a canção “Guerra”, na zona de guerra no Cáucaso. As músicas são extremamente politizadas, mas Residente nega qualquer rótulo de revolucionário e diz que não acredita que possa mudar o mundo. Sua postura ativista já lhe rendeu problemas políticos em seu país, ele ficou proibido de se apresentar em Porto Rico por quatro anos.

A música “La cátedra” é um exemplo da força de suas rimas. Na canção ataca os que desconhecem a história da América Latina e o quanto essas terras são exploradas pelo capitalismo: “Não sou comunista, socialista ou capitalista/ Eu acredito em inventar algo novo melhor/ diz que eu sou idealista/ Eu acredito na igualdade e oportunidades infinitas/ Eu acredito que a educação sobre saúde e alimentação deveria ser gratuita”.

Antes do projeto solo, Residente era o vocalista do grupo Calle 13, que tem a mesma pegada de protesto nas músicas. Uma das canções mais significativas, na minha opinião, é “Latinoamerica”. A música transforma o espírito latino-americano em poesia: “Eu sou, eu sou o que sobrou/ Sou todo o resto do que roubaram/ Um povo escondido no topo/ Minha pele é de couro, por isso aguenta qualquer clima/ Eu sou uma fábrica de fumaça/ Mão de obra camponesa, para o seu consumo (…) Sou o que sustenta minha bandeira/ A espinha dorsal do planeta, é a minha cordilheira/ Sou o que me ensinou meu pai/ O que não ama sua pátria, não ama a sua mãe/ Sou América Latina, um povo sem pernas, mas que caminha”.

Essas são apenas duas das músicas, tão boas quanto as outras. Portanto, vale gastar algumas horas para ouvir tanto as músicas do Residente quanto as do Calle 13. Em uma época em que quase tudo o que se ouve é comercial e sem engajamento, o rapper sobressai com um trabalho original e sensível.

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