Uber, Airbnb e outros aplicativos da chamada Economia do Compartilhamento juram de pés juntos que as novas tecnologias estão nos levando a um mundo incrível. Vizinhos ajudando vizinhos, cidades onde todos se respeitam, sistemas de transporte eficientes, o retorno da confiança na boa-fé dos seres humanos, tudo isso possibilitado por um smartphone com conexão à internet: a “revolução” na palma da mão.

Nesses novos dias, as alegrias serão de todos, é só querer! No horizonte, um arco-íris em fim de tarde (temperatura agradável, 26 graus) e, ao pé dele, Dona Benta nos aguarda com café — ou chá, para quem não curte cafeína —, biscoitos de polvilho e um bolo de chocolate, talvez de cenoura. Atrás da bela imagem construída pelo marketing, podemos (não) ver direitos trabalhistas sonegados, empresas que não se responsabilizam pelos danos decorrentes do uso de suas tecnologias e um movimento massivo de enfraquecimento das últimas instâncias democráticas.

“A Economia do Compartilhamento é um movimento: um movimento pela desregulação”, escreve Tom Slee, autor de nosso porretíssimo lançamento Uberização: a nova onda do trabalho precarizado. “Grandes instituições financeiras e fundos influentes de capital de risco estão vislumbrando uma oportunidade para desafiar as regras formuladas pelos governos municipais democráticos ao redor do mundo. E para remodelar as cidades de acordo com seus interesses. Não se trata de construir uma alternativa à economia de mercado dirigida por corporações. Trata-se de expandir o livre mercado para novas áreas de nossas vidas.”

Tendemos a olhar para Uber e Airbnb como empresas que estão chegando para “quebrar paradigmas” e desbancar negócios caducos, elitistas e meio mafiosos, como táxis e hotéis. São cool, high tech, ajudam a galera a fazer uma grana a mais. Transformam problemas concretos em facilidades digitais. Quem não poderia gostar disso?

Depois de ler nosso lançamento de outubro, que chega ao público brasileiro com prefácio de Ricardo Abramovay, você talvez fique decepcionado. Não conosco, pô, porque demos duro para colocar mais esse livro no mundo. Mas com essas empresas tão incríveis.

Como ressalta Slee, precisamos nos perguntar sobre as histórias que não são mostradas por essas empresas: aquelas que não entram no marketing agressivo que nos assalta nas ruas e nas redes sociais. A Uber alavanca seu controverso modelo de negócios empurrando aos motoristas uma série de responsabilidades — seguro, manutenção, combustível, segurança — e deixando de atender às exigências e arrecadar os impostos que os táxis têm de pagar às cidades. Nos últimos meses, surgiram dezenas de casos de violência relatados no Brasil envolvendo a plataforma, vitimando passageiros e motoristas. Nessas horas, o que a empresa faz é tirar o corpo fora: chamam seus motoristas ou anfitriões de “parceiros” e alegam que são meras mediadoras do serviço.

Lançamento: 24 de outubro de 2017, às 19h
Casa do Povo (Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, São Paulo-SP)
Debate:
Ricardo Abramovay, USP
Eliane Lucina, procuradora do Trabalho
Ludmila Costhek Abilio, Unicamp
Mediação: João Peres

FICHA TÉCNICA

Uberização: a nova onda do trabalho precarizado
Autor: Tom Slee
Tradução: João Peres
Prefácio: Ricardo Abramovay
Preço: R$ 40,00

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