As tensões se intensificaram na Espanha no último domingo, com o referendo sobre a independência da Catalunha. Houve forte repressão por parte do governo central espanhol que considerou a ação inadmissível e ilegal. Cerca de oitocentos civis ficaram feridos, mas o “sim”, pela independência, ganhou com 90% dos votos, num universo de mais de dois milhões de votantes.

A história da reivindicação catalã nos remete a 1714, quando a capital, Barcelona, caiu perante o domínio espanhol. Um pouco antes da ditadura do general Francisco Franco, entre 1939 e 1975, os catalães tiverem sua cultura e sua relativa autonomia conquistada. Porém durante o franquismo, a autonomia foi duramente reprimida e os catalães tiveram, por exemplo, sua língua proibida. Com a redemocratização e a Constituição de 1978, a região passou a ter maior autonomia administrativa com parlamento e presidente próprios.

Já na conjuntura atual, além das questões culturais e de identidade, o fator econômico tem grande peso. A Espanha foi gravemente afetada pela crise de 2008 e isso inflamou o discurso de que a região catalã, a mais rica do país, com quase 20% do PIB, estaria levando “nas costas” as outras regiões, sem receber em contrapartida investimentos públicos à altura da sua contribuição. Um discurso, em linhas gerais, muito parecido com o que outros separatistas proferem na Bélgica, na Escócia e até mesmo no sul do Brasil.

Porém, à parte a polêmica sobre a legitimidade do referendo, nada justifica a repressão do Estado espanhol contra a liberdade de expressão na Catalunha. O governo central liderado por Mariano Rajoy, que é filiado ao conservador Partido Popular (PP), não poupou esforços para sufocar o pedido de referendo por vozes a favor da separação catalã, utilizando até o exército e outros mecanismos antidemocráticos, como a proibição de atos públicos, coleta de votos e o fechamento do site oficial do referendo.

Tais ações repressivas poderão surtir o efeito contrário e dar mais força para a retórica da independência catalã e expõem uma grande hipocrisia por parte do governo espanhol, já que este acusa Nicolás Maduro, na Venezuela, de reprimir a oposição, embora Maduro não tenha impedido que os partidos de oposição realizassem seu referendo contra a Assembleia Nacional Constituinte poucos meses atrás. O governo do PP chegou a pressionar a União Europeia para impor medidas restritivas contra a Venezuela. Agora ficou claro quem é que se comporta ditatorialmente.

[et_pb_top_posts admin_label=”Top Posts” query=”most_recent” period=”MONTH” title=”Mais Recentes”] [/et_pb_top_posts]

`