A maior população sem Estado do mundo, os curdos, participaram no último dia 25 de um referendo sobre a independência de sua região no Iraque, governada por Masoud Barzani. Cerca de 72% dos eleitores votaram, e o “sim” venceu com mais de 92%, reabrindo a discussão histórica sobre a justa reivindicação de independência curda e seus possíveis desdobramentos.

A história dos curdos é mais uma que foi marcada pelo imperialismo dos países dominantes e suas definições de fronteiras conforme seus interesses. Depois da Primeira Guerra Mundial e da queda do Império Otomano, os curdos foram traídos pela Inglaterra e pela França, que haviam prometido consolidar um território curdo independente. Ficaram divididos entre Iraque, Irã, Síria e Turquia, sem Estado próprio.

Como etnia minoritária nos países supracitados, os curdos foram amplamente reprimidos e chegaram a ter sua língua proibida. Um de seus partidos, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), na Turquia, é considerado uma das principais ameaças terroristas para o governo. Consequentemente, o referendo no Iraque foi duramente condenado pelo presidente turco, o ultra-conservador Recep Erdogan, pois teme que isso reforce as ações do PKK.

Outro ponto que elucida a análise sobre o referendo é o fato de que a população curda apresentou-se como importante frente para combater o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Neste último, durante um do embates, os soldados curdos, nomeados Peshmergas, conquistaram a área onde está uma cidade iraquiana que é grande produtora de petróleo, Kirkuk. Por isso, além das preocupações de esfacelamento da unidade territorial, o componente econômico pesa para Bagdá, já que uma possível independência curda tiraria do controle do Estado iraquiano aquela valorosa fonte de renda.

A consulta realizada foi um ato político não impositivo. Porém, é parte da justa luta por uma pátria para este povo oprimido ao longo de séculos e que, apesar de suas vicissitudes, tem mostrado unidade suficiente em torno de seu ideal. Embora de caráter simbólico, o referendo revelou-se um incômodo para os governantes dos quatro países que englobam as terras curdas, pois sabem que não podem mais ignorar a questão e que uma solução terá de ser encontrada mais cedo ou mais tarde.

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