A chanceler alemã, Angela Merkel, obteve novo mandato nas eleições de 24 de setembro frente à coligação CDU/CSU (Partido Democrata Cristão e União Social Cristã, que é um partido regional da Baviera). Esta coligação foi a mais votada, com 33,5% dos votos, entretanto 8,5% menos do que a votação de 2013.

O Partido Social Democrata Alemão (SPD) – que esteve duas vezes coligado ao CDU/CSU no governo, na chamada “Grande Coligação”, de 2005 a 2009 e de 2013 a 2017 – também foi castigado pelos eleitores. Embora tenha se apresentado como “oposição”, chegou em segundo lugar, com 20,5% dos votos, seu pior resultado desde a primeira eleição na Alemanha depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1949, com 5,2% a menos do que em 2013.

Na Alemanha vigora o sistema distrital misto e, assim, metade do parlamento, 299 deputados, são os mais votados das listas partidárias que ultrapassarem a cláusula de barreira de 5%. A segunda parte é composta pelos eleitos por votos obtidos diretamente nos distritos. Desta forma, para contemplar os dois critérios, o número de parlamentares se altera, embora o número padrão seja 598. Em 2013 foram eleitos 631 no total, e, em 2017, foram 709. A cláusula de barreira em 2013 barrou o ingresso dos liberais democratas (FDP), apesar de estarem no governo em coligação com o CDU/CSU entre 2009 e 2013, e barrou também a extrema direita (AfD).

O resultado atual e a composição do Parlamento (Bundestag) nesta eleição comparada com a última ficou assim:

Partidos

2013

2017

% em 2017

CDU/CSU

309

246

33,5 (-8,5)

SPD

193

153

20,5 (-5,2)

Die Linke

64

69

8,9 (+0,6)

Verdes

63

67

9,2 (+0,5)

FDP

0

77

10,7 (+5,9)

AfD

0

94

12,6 (+7,9)

Independentes

1

0

Total

631

709

100

A grande novidade, sem dúvida, foi a extrema direita (AfD) ter chegado em terceiro lugar na eleição e ingressar no Parlamento pela primeira vez. Pelos resultados obtidos pelo AfD e pelo FDP, é evidente que houve migração de votos da direita representada pelo CDU/CSU para estes dois partidos e do SPD para a extrema direita, como vem ocorrendo em vários países europeus onde parcelas dos trabalhadores que votavam na social democracia estão decepcionados com a perda de direitos e seduzindos pelo discurso xenófobo.

O desafio de Merkel, agora, é compor o governo. O presidente do SPD e candidato derrotado a chanceler, Martin Schulz, tem afirmado que o partido fará oposição a Merkel para não deixar este espaço para o AfD. A verdade é que a grande coligação foi prejudicial ao SPD, pois não se percebia a diferença entre neoliberais e social-democratas. Somente seus burocratas que ocuparam cargos no governo foram beneficiados.

Isso deixa para Angela Merkel a opção de compor com os liberais e os verdes. O problema é que estes dois não se bicam, pois embora para os verdes, cujo programa é a defesa do meio ambiente, faça a aliança com a esquerda tanto quanto com a direita, o problema com o FDP é a visão diferenciada que ambos partidos têm sobre o papel do Estado nas questões ambientais. Aliás, é bom lembrar que a fundação partidária do FDP, Friedrich Naumann, apoiou, no Brasil, agrupamentos como o MBL e semelhantes nas manifestações pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Além destas dificuldades, o CSU, eterno parceiro do CDU, também vem falando em “discutir a relação”, pois seus líderes consideram que Merkel foi transigente demais em relação aos migrantes e refugiados do Oriente Médio durante o mandato que terminou.

Se o SPD realmente não aceitar outra experiência de grande coligação e se os Verdes e FDP não combinarem, restaria a possibilidade de um governo de minoria dependente de negociações sobre cada tema em discussão no Parlamento, o que provocaria grande tensão na Alemanha, pois não se prevê voto de desconfiança e eleições antecipadas neste país.

 

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