Na última terça-feira (19), o golpista Michel Temer discursou na abertura de uma reunião da Assembleia Geral da ONU. Em sua fala hipócrita, mostrou mais uma vez a fragilidade de seu projeto de política externa brasileira que, em sua concepção, seria universalista, mas, na realidade, não passa de uma política submissa.

No começo do discurso, Temer mostrou-se com uma posição que arrancaria aplausos das grandes economias, contrária ao protecionismo e aos nacionalismos. Ora, países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento cada vez mais abertos e com disposição para absorver os capitais e produtos provenientes do centro da economia mundial é justamente o que este centro quer.

O protecionismo, amplamente utilizado pelos países desenvolvidos no começo de sua ascensão e ainda hoje em vários setores, particularmente, a agropecuária, não é um bom negócio para eles, quando os integrantes do sul buscam desenvolvimento. Por isso, os ideais neoliberais são empurrados goela abaixo para estes últimos por uma elite que está no poder e que se beneficia.

Durante os governos petistas, um maior número de alianças e canais estratégicos com outros países em desenvolvimento projetou o Brasil mundialmente e o fez com que todos ampliassem seu poder de barganha no jogo injusto entre abertura comercial e protecionismo, que é mediado – a favor do livre comércio, é claro – pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

A igualdade de direitos entre as nações foi um dos pilares para a intenção do Brasil em obter um assento no Conselho de Segurança da ONU. Temer também falou neste assento, baseando-se nos princípios do multilateralismo. Porém, é vergonhoso defender a reforma e um assento no Conselho quando não se tem projeto de política externa, como ocorre hoje. Soma-se a isso o abandono de princípios fundamentais, como a autodeterminação dos povos, a não ingerência e a solução pacífica dos conflitos – como no caso do governo brasileiro em relação à Venezuela -, além de trocar relações com regiões como a América Latina e a África para priorizar os EUA e a Europa. Isso sem falar na imagem de um personagem sem expressão, que comete gafes atrás de gafes em viagens ao exterior e agora é alvo de uma nova denúncia, que analisada pelo Congresso para definir se ele será processado agora ou após o término do mandato.

O último ponto a ser destacado, talvez, o pico de hipocrisia do discurso, é a questão da Amazônia. Em sua fala, Temer vangloria-se de uma gestão sustentável, na qual a Amazônia seria prioridade e cuja consequência seria a diminuição do desmatamento na região. Uma frase “para inglês ver”. Aqui, no Brasil, a história é outra: Temer sancionou uma lei que extingue uma reserva ambiental para permitir atividades de mineração. Só revogou a inescrupulosa lei depois de diversos protestos de movimentos sociais, intelectuais e pessoas influentes na mídia, além de uma liminar na Justiça que suspendeu o projeto.

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