A vice-presidência do Uruguai ficou vaga depois que Raúl Sendic, filiado ao partido governista Frente Ampla, renunciou ao cargo no sábado, 9 de setembro. Sendic foi acusado pela revista Búsquedas de ter utilizado indevidamente um cartão corporativo e de não ter prestado contas de despesas quando estava ocupando a diretoria da estatal petroleira Ancap, entre 2005 e 2009.

Esta denúncia assanhou a mídia conservadora e os dois partidos de direita, Nacional e Colorado, que não perderam a oportunidade de, ao longo de semanas, assediar e acusar o vice-presidente de corrupção e, consequentemente, a Frente Ampla de cumplicidade. A tática é igual à adotada no Brasil desde a eleição da presidenta Dilma Rousseff, em 2014, e durante seu processo de impeachment, em 2016, devido às chamadas “pedaladas fiscais”. E ainda como fazem atualmente com o ex-presidente Lula para tentar impedi-lo de concorrer à presidência em 2018. Esta última comparação faz sentido porque Raul Sendic seria uma alternativa da Frente Ampla para as próximas eleições presidenciais uruguaias em 2018.

No entanto, as acusações são ineptas. O uso do cartão corporativo somente ocorreu devido a necessidades político-administrativas inesperadas, conforme relatou Sendic, e os valores gastos pela Ancap que não têm prestação de contas mal chegam a US$ 300,00 por ano.

No entanto, setores internos da Frente Ampla somaram-se à campanha pela renúncia do vice-presidente, possivelmente acreditando que a mídia e a direita se acalmarão. A renúncia de Sendic do dia 9 de setembro foi pautada pela decisão do Tribunal de Conduta Política da Frente Ampla de julgar inaceitável sua utilização do cartão corporativo, decisão considerada exagerada por Mujica, pelo presidente Tabaré Vázquez e outros políticos uruguaios. Mujica chegou a comparar o caso com os abusos cometidos pela Operação Lava Jato no Brasil.

Ledo engano que os adversários da Frente Ampla irão acalmar-se. Considerarão a renúncia como uma demonstração de fraqueza para apertar a pressão política sobre o governo e a Frente. Novas acusações certamente surgirão, uma vez que não é necessário provar nada.

Quem ocupará o cargo a partir de agora será a senadora, ex-guerrilheira e esposa do ex-presidente José Mujica, Lucia Topolansky. Segundo a lei uruguaia, quem deveria ocupar o cargo vago seria o senador mais votado, no caso Pepe Mujica. Entretanto, a Constituição não permite a reeleição, por isso a vice-presidência passará para a segunda senadora mais votada. Ela também é figura cativa da Frente Ampla e benquista pela população. Quando Mujica estava na presidência, foi a pessoa mais votada para uma cadeira no Senado e chegou a assumir a presidência do país quando o presidente e o vice estiveram em viagens.

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