Xico Sá expõe alma brasileira em crônicas inspiradas no futebol
Lançado em março de 2017 pela Realejo Livros & Edições, o último livro do cronista Xico Sá reúne cerca de cem crônicas publicadas no El País e na Folha de S.Paulo, entre 2005 e 2016. O livro revela a genialidade do autor em um assunto cujo domínio não se dá na ponta da língua ou dos dedos, como a palavra, seu forte, mas na ponta dos pés – o futebol.
Poderia ser sobre história, música, literatura, política ou filosofia. O futebol é apenas um pretexto para discorrer sobre a alma do povo brasileiro, estampada na angústia da decisão, no grito de vitória, no choro incontido da derrota, no sofrimento e abraço da torcida.
Muito mais que o glamour dos times de primeira divisão, do futebol “limpinho-cheiroso” das novas arenas, o livro traz a paixão pela segundona, pelo futebol de várzea, a pelada genuína onde nascem os grandes craques dessa arte.
As crônicas relembram partidas memoráveis, assim como remetem a jogos anônimos e envolvem todos que torcem e vibram perante uma partida de futebol de seu time, mas também os que secam e agouram os times adversários. Traz para perto estrelas do futebol como Ronaldo, Adriano, Dr. Sócrates, Robinho, Neymar, simulando sentimentos prováveis diante do gol “desses meninos que nasceram para brilhar”.
Mas Xico também revive a incredulidade e a dor do mísero 7 X 1 em casa, no Mineirão, onde o senso de humor do autor presente nas primeiras crônicas dá lugar ao senso crítico do cidadão, das finais, que não poupam seu recado à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), bem como denuncia o golpe em curso, o que o levou a ser demitido do “Jornal de rabo preso (com o leitor) ” por discordar da opinião da empresa e expressar opinião política em suas crônicas. É, Xico, “Existem criaturas a quem os deuses dão muito, mas de quem os homens exigem ainda mais para glorificá-los”.
Num drible de palavras, o autor escolhe a epígrafe da crônica que dá nome ao livro “O país repete no futebol o medíocre desempenho e estilo da política de Brasília” e termina profetizando “Quem sabe, é nessas horas de crise de pensamento que um país ressurge. Que venham os desobedientes aos esquemas táticos e aos vozeirões burros do banco…”
Parafraseando o autor: “estamos em uma fase da Pátria em sandálias da humildade. Descemos do salto alto”.