No último mês de julho foi lançada a versão em português do livro “Prisioneiros da geografia”. Publicado originalmente em inglês, no ano de 2015, sob título “Prisoners of geography” pelo jornalista inglês Tim Marshall, o best-seller discute como a geografia de um país pode influenciar em sua riqueza interna e na estratégia de atuação geopolítica internacional.

O autor, Tim Marshall, é um jornalista que se dedica a relações e diplomacia internacionais. Já cobriu mais de uma dezena de conflitos mundiais. Dentre eles a dissolução da antiga Iugoslávia, Iraque, Afeganistão, a Primavera Árabe e Faixa de Gaza. Recebeu prêmios por algumas destas coberturas e é autor de outros três livros, um deles inclusive sobre a Guerra da Iugoslávia.

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“Prisioneiros da geografia” apresenta o ponto de vista de que, assim como fatores econômicos, históricos, sociais, tecnológicos, dentre outros, a geografia física, por meio de montanhas, rios, planícies, desertos, golfos é um fator de grande relevância no que um país é ou pode ser. Na análise ao longo da história, os demais fatores possuem uma natureza muito mais temporária do que fatores geográficos, e estes, por sua vez, podem fazer com que a história se repita nas mesmas regiões, ainda que com povos diferentes. A tecnologia tem desempenhado um papel que, em grande medida, redimensiona limites e distâncias, mas mesmo ela sofre consequências de barreiras e acidentes geográficos.

O livro analisa dez regiões/situações em quatro continentes, como por exemplo na Ucrânia, país que se posiciona geograficamente como barreira territorial e geopolítica de proteção ao território russo (em caso de conflito com países da União Europeia), é analisado o interesse russo na Criméia, a importância do Porto de Sebastropol e ao consequente acesso ao mar de águas quentes, que não congelam no inverno. No mar ao sul da China, onde se localizam reservas de petróleo e gás, o país enfrenta conflitos com japoneses, malaios, filipinos e vietnamitas, estes quatro últimos apoiados pelos Estados Unidos. O degelo no Ártico, e as rotas marítimas que ali estão se abrindo, além dos consequentes impactos ambientais globais. A disputa em decorrência do Rio Nilo entre Egito e Etiópia. O interesse dos Estados Unidos no Oriente Médio apenas em regiões que contribuam para suas necessidades energéticas. Bem como outras situações da Europa Ocidental, África, Oriente Médio, Índia e Paquistão, Coreia e Japão e América Latina.

Lembrando que aliada à tática russa, a geografia e o clima do país já frustraram investidas de Napoleão e Hitler, o livro exemplifica que todos os líderes mundiais enfrentam limitações geográficas, contribuindo para a percepção das origens e perspectivas de evolução de vários conflitos e situações que afetam, ou podem vir a afetar, a segurança mundial, e demonstra a importância de um conhecimento sólido em geografia para se ter uma visão ampla dos eventos mundiais ou regionais. Mostra também o quanto a matéria é um fator determinante na história do mundo, e que sua melhor compreensão e uso servem não só para fazer a guerra, como dizia o geógrafo Yves Lacoste, mas também para evitá-las.

“Prisioneiros da Geografia: dez mapas que revelam tudo o que precisa saber sobre política internacional”, apesar de felizmente não corresponder a seu subtítulo, é uma publicação bem pesquisada e argumentada. Pode satisfazer tanto o pesquisador especialista como o leitor em geral, e permite uma melhor compreensão das situações geopolíticas, levando o leitor da América do Norte ao Oriente Médio, deste para Europa ou Ártico, e destes para as Ilhas Malvinas (Falklands) indo pela África ou Japão, afinal as montanhas ficam, mesmo quando os homens se vão.

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