MPLA vence eleições parlamentares e presidenciais em Angola
O partido político Movimento pela Libertação de Angola (MPLA) venceu as eleições nacionais realizadas no dia 23 de agosto, com 64,6% dos votos, elegendo 153 dos 220 deputados da Assembleia Nacional que escolherá o novo presidente do país. Este modelo de eleição,introduzido em Angola há pouco tempo, é semelhante ao que vigora na África do Sul, e os eleitores votam no partido de sua preferência conhecendo a lista de deputados encabeçada pelo candidato à presidência da República.
Nesta eleição, ao obter a maioria dos votos, o MPLA escolherá o atual ministro da Defesa, João Lourenço, como presidente do país, em substituição a José Eduardo dos Santos, que presidiu Angola por 38 anos, desde 1979, quando sucedeu Agostinho Neto, um dos principais mentores da independência do país. Os outros candidatos foram Isaías Samakuva, do partido União pela Independência Total de Angola (Unita), e Abel Chivukuvuku, da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (Casa – CE).
A Unita é a representação política do antigo grupo guerrilheiro liderado por Jonas Savimbi, apoiado pelos Estados Unidos, que disputou o controle do país desde a independência, em 1975, até a assinatura de um acordo de paz, em 2002, pondo fim a um conflito de 27 anos. O conflito provocou aproximadamente quinhentas mil mortes e resultou em dois milhões de refugiados. A Unita obteve 26,7% dos votos e elegeu 51 deputados, dezenove a mais do que na eleição de 2012.
A Casa-CE nasceu de uma dissidência da Unita, por considerar as posturas de Samakuva muito à direita. Reuniu-se com outros partidos menores e, em seu primeiro congresso, em 2012, decidiu manter-se como uma coligação de partidos de centro esquerda e social democratas, em vez de formar um partido unitário. Naquela eleição, elegeu seis deputados e agora dobrou o resultado.
O MPLA já era o agrupamento étnico, político e guerrilheiro mais representativo durante a guerra da independência e assim prosseguiu após o acordo de paz de 2002. A guerra civil foi extremamente traumática para a população angolana, que é um dos países com maior proporção de minas terrestres por metro quadrado do mundo.
Independentemente de seus méritos, há uma visão geral no país de que o MPLA é o principal avalista da paz e que, estando no governo, impede a retomada da guerra. Contudo, há um desgaste político do MPLA, pois embora o PIB de Angola tenha crescido na base de dois dígitos durante vários anos até 2014, devido, principalmente, à exportação de petróleo cru e outros minerais, nunca houve uma política de distribuição de renda, e 70% da população sobrevivem com menos de dois dólares ao dia.
Em 2012, José Eduardo Santos obteve 72% dos votos e agora houve uma redução de cerca de 8%. Um pouco antes do congresso do MPLA, realizado em 2016, ele havia anunciado que pretendia candidatar-se à mais uma reeleição este ano e que deixaria a presidência em 2018 para o vice presidente, no caso, sua filha, Isabel dos Santos, presidenta da empresa angolana de petróleo, a Sonangol.
No entanto, a direção do MPLA cuja Direção Executiva ainda conta com alguns veteranos da guerra civil, rejeitou esta fórmula, e indicou que um novo candidato deveria concorrer, no caso João Lourenço, que já havia mostrado essa disposição em momentos anteriores. José Eduardo dos Santos submeteu-se à decisão, mas impôs um candidato a vice-presidente de sua confiança.
João Lourenço terá de lidar com muitas dificuldades. Inicialmente, com a economia estagnada e totalmente dependente das exportações de petróleo cru que responde por 91% das exportações angolanas e cujo preço no mercado internacional caiu brutalmente desde 2014.
Em segundo lugar, a má imagem do governo angolano. José Eduardo dos Santos é hoje o homem mais rico da África e sua filha dirigindo a exploração de petróleo no país não fica atrás, o que contrasta com vinte milhões de pessoas que vivem na extrema pobreza. Além disso, um episódio de repressão em junho de 2015 contra um grupo de jovens opostos ao governo teve repercussões importantes no país e também no exterior, expondo o autoritarismo do governo.
Este episódio levou quinze jovens auto denominados “Movimento de Jovens Revolucionários de Angola” (MJRA) à prisão, incomunicáveis por dez dias, acusados de planejar “alterar a ordem e a segurança pública”. Eles foram detidos pela polícia secreta durante uma reunião de seu grupo de estudo que discutia o livro de um dos seus componentes, o jornalista Domingos da Cruz, “Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura: Filosofia Política de Libertação para Angola”. Apesar do título contundente, defende da luta política pacífica, incluindo a desobediência civil, e foi inspirado em outra publicação semelhante, de autoria de Gena Sharp, muito popular durante a “Primavera Árabe”.
Ou seja, o nove presidente terá pela frente grandes desafios, como gerar alternativas produtivas, eliminar a repressão política e combater a corrupção.