Os homens do mercado que hoje comandam o país continuam dando fartas demonstrações da inabilidade para a gestão da coisa pública. Depois de seguidas alterações nas metas fiscais (foram quatro até agora!), desesperados com a seca de receitas que a política de austeridade provoca, anunciam que pretendem vender o patrimônio púbico para pagar as despesas correntes do governo – entenda-se: bancar as benesses que prometeram a seus aliados no Congresso.

Segundo informa o jornal Valor Econômico (leia aqui), nas últimas duas semanas a equipe econômica elaborou um plano de privatizações que, entre outras, coloca na roda a rentável e estratégica Eletrobrás. A ideia é pulverizar o capital da empresa, reduzindo a participação da União, e assim arrebatar vinte bilhões de reais que seriam transferidos sem escalas ao Tesouro Nacional para ajudar a fechar as contas da farra.

Não há ainda muitos detalhes do plano, mas o que se sabe até o momento é que o governo pretende repetir com a Eletrobrás o “modelo de negócio” (Sic) que foi feito por ocasião da privatização da Vale do Rio Doce. E essa parece ser uma péssima ideia.

Par quem não se lembra, a Vale do Rio Doce, que era uma companhia estatal altamente lucrativa, líder mundial e pioneira no desenvolvimento de tecnologias de mineração, foi vendida em 1997 por irrisórios R$ 3,38 bilhões (parte dos quais financiados pelo BNDES!), a despeito de deter à época uma reserva mineral que valia R$ 100 bilhões e de ter lucrado naquele mesmo ano R$ 760 milhões! Menos de uma década mais tarde, com a voracidade das manufaturas chinesas o preço do minério de ferro disparou no mercado internacional fazendo o lucro líquido da Vale alcançar R$ 22,8 Bilhões no ano de 2011, quando o minério de ferro bateu no teto e o valor de mercado da companhia chegou a R$ 302 bilhões – hoje, mesmo depois de forte queda dos preços do ferro, a empresa ainda vale 186 bilhões, isto é 54 vezes mais do que foi pago pelo Bradesco e seus sócios na privatização promovida pelo FHC.

Pois bem, declaradamente inspirados nesse crime de lesa pátria, querem agora repetir a façanha com a Eletrobras. Ocorre que, para além de muitas outras implicações que não cabem ser discutidas nesses espaço, é preciso alertar que a Eletrobrás é ainda mais estratégica do que a Vale, visto que, na condição de espinha dorsal do sistema nacional de produção e distribuição de energia elétrica, é capaz de equacionar as diferentes taxas de retorno regionais garantindo oferta de energia a preços competitivos em áreas do país que não atraem investimentos privados na quantidade necessária para o seu desenvolvimento.

Além disso, justamente por ser estatal e não precisar se pautar pelos interesses de seus acionistas, a Eletrobrás se permite colher resultados financeiros de forma anticíclica, isto é, pode flexibilizar sua estratégia de rentabilidade, assumindo custos maiores nos períodos de crise (como entre 2012 e 2015) e recuperando o caixa durante os anos de normalidade hídrica. Em 2016, por exemplo, o Ebidta (lucro antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortizações) da Eletrobrás alcançou R$ 19,8 bilhões (veja aqui, pag. 103), cifra muito próxima do que se espera conseguir com a venda a transferência do controle da empresa para o setor privado.

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