“Em uma guerra por poder e liberdade, onde o bem-estar de todos passa longe de ser prioridade, o samba abre caminho e pede passagem”. Talvez essa frase do cantor e compositor Criolo, ao falar de seu novo álbum de samba Espiral de Ilusão, já seja suficiente para descrever a magia da obra. Com origem no rap, ele revela aquela que pode ser a melhor crônica do nosso tempo.

Se analistas, formadores, estudiosos e acadêmicos ainda divergem sobre o que está acontecendo no Brasil, o artista não tem dúvida: cantar a voz do povo é o melhor remédio para as nossas angústias.

O álbum tem dez faixas, oito compostas somente por Criolo, uma que ele assina com os parceiros Ricardo Rabelo e Jefferson Santiago e apenas uma que não é dele, “Hora da decisão” (de Rabelo e Dito Silva).

Nele, canções sobre dores de amores mal-resolvidos, durezas da vida e a alegria dos encontros. Em pura forma de afeto, dor vira samba. E se dói tanto, ouvir esse álbum serve como um daqueles abraços longos e legítimos que uma pessoa desconhecida pode nos dar, às vezes.

Como essa sorte não vem fácil, vamos todos abrir uma latinha de cerveja e ouvir essas dez músicas de abraço. Não por acaso, toda a obra está disponível no site do cantor. Traduzindo os nossos dias, lembramos ali de Wilson das Neves, Adoniran, Noel, Chico, Paulinho da Viola, de Clara Nunes, de Elis, de Leci Brandão. Não é pouca coisa fazer a gente lembrar da nossa história do samba e cantar a dureza da vida, em puro amor.

Companheiro, eu acho que isso deve doer. Você mesmo disse “que tem a sorte de ter a música para desabafar e pedir desculpas para o mundo”. A única coisa que podemos pedir é a sua música emprestada para fazer o mesmo. Empatia, verdade, afeto e encontro – talvez a gente precise de samba, só talvez.

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