A publicação em português do livro Pós-capitalismo. Um guia para nosso futuro”, do jornalista inglês Paul Mason, vem em boa hora. Trata-se de uma ampla reportagem sobre a profundidade da crise do capitalismo e o surgimento e a evolução de “germes” de uma lógica “pós-capitalista” em diversas esferas da vida social. Ajuda a reaquecer um debate que a esquerda brasileira tem pendente.

O auge do neoliberalismo e o fim da União Soviética no começo dos anos 1990 impulsionaram os operativos ideológicos do “não há alternativas” (M. Thatcher), do “fim da história” (F. Fukuyama) e o desaparecimento do socialismo do horizonte político. Na América Latina, a crise do neoliberalismo criou as condições para o “ciclo progressista” (iniciado com as vitórias presidenciais de Hugo Chávez em 1998 e Lula em 2002) ensaiar alternativas “pós-neoliberais” (E.Sader).

Esse ciclo atravessa, desde 2015, impasses e derrotas em vários países da região. Em 2007-8 a crise neoliberal chegou ao capitalismo desenvolvido e, com ela, os movimentos de indignados em países do Norte. Surgiram expressões políticas desse malestar, como o Podemos, na Espanha, a liderança majoritária de Jeremy Corbin, contrário à “terceira via” de Tony Blair, no trabalhismo inglês, e de Bernie Sanders, que se declara socialista democrático, no Partido Democrata estadunidense. Vivemos hoje tempos convulsionados.

A direita ensaia uma “contra-revolução neoliberal” (J. Guimarães), no Brasil e em toda América Latina. Mas não consegue oferecer um projeto com capacidade hegemônica. Para que a esquerda retome a ofensiva, é a hora de recarregar as alternativas, superando insuficiências e erros da fase anterior.

A Fundação Perseu Abramo e o PT Nacional lançaram em 31 de julho o desafiador programa Brasil em Movimento. Ambas as instituições buscam combinar a escuta das propostas da população com o saber acadêmico no entendimento da necessidade de umprojeto de nação que se traduza na construção da grande sociedade brasileira (que) insere-se na perspectiva de longo prazo capaz de possibilitar uma nova via de transição pós-capitalista”. Parte das dificuldades que está atravessando o ciclo progressista na América Latina – e no Brasil, sobretudo – tem raízes em insuficiências programáticas. Uma contraofensiva popular certamente precisará de um programa renovado.

E esse programa de ações de curto e médio prazos deverá articular-se em uma estratégia que aponte para uma sociedade que supere as mazelas do capitalismo. O livro de Mason é um estímulo para esse debate.

Título: Pós-capitalismo. Um guia para nosso futuro.

Autor: Paul Mason São Paulo: Companhia das Letras, 2017

Para saber mais sobre “Brasil em Movimento”, ver em http://www.pt.org.br/diretorios-do-pt-debatem-novo-programa-coletivo-para-o-brasil/

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