Dilma Rousseff, ex-presidenta da República, presidenta do Conselho Curador da FPA: “Meu amigo querido, Marco Aurélio Garcia”

“A morte do professor Marco Aurélio Garcia, meu amigo querido, é extremamente dolorosa. Desfrutei pela última vez de sua companhia há três semana. Conversamos sobre a vida e os momentos terríveis que o país atravessa. Hoje é um dia de dor para todos nós, que compartilhamos com ele seus muitos sonhos, histórias e lutas. Era um amigo querido, de humor fino e contagiante, sempre generoso e cheio de ideias, dono de uma mente arguta e brilhante. Meus sentimentos ao filho Leon, ao neto adorado Benjamin, aos familiares e todos os seus amigos. É muito duro saber que não terei mais sua companhia, nem o prazer de ouvir sua poderosa gargalhada. Um dia terrível para quem luta por um mundo melhor, com justiça social. Um dia muito, muito triste.”

Celso Amorim, diplomata, ministro das Relações Exteriores dos governos Lula

“Talvez a frase mais eloquente que escutei sobre o Marco Aurélio Garcia tenha sido pronunciada por um amigo comum, Heitor Macedo, psicanalista, escritor e intelectual militante. Quando ambos viviam o exílio em Paris, Heitor comandou uma entrevista com o filósofo Jean Paul Sartre, então no auge da fama e do engajamento político. Para convencer o Marco Aurélio a participar da empreitada intelectual e emocionalmente desafiante, Heitor disse: “Marco, você tem de vir; só você pode colocar o Sartre contra a parede!” Mesmo descontando o entusiasmo e a amizade, de quantas pessoas no mundo se poderia dizer algo parecido?

Mas, além da inteligência e do senso de humor agudo (“para a maioria dos políticos brasileiros, escrúpulo é uma ilha da Grécia”, dizia), Marco Aurélio era um homem de grande caráter e integridade. Sabia conciliar a firmeza das convicções com a habilidade necessária para promover soluções onde outros só viam problemas. Profundo conhecedor dos movimentos de esquerda na Europa e na América Latina, era também instado por políticos conservadores como Uribe a buscar um diálogo entre o governo e os sindicatos colombianos. Sua estada no Haiti, como enviado pessoal do presidente Lula foi fundamental para que o Brasil, que tinha a responsabilidade decorrente do comando das forças da ONU, pudesse navegar no complexo cenário político haitiano e contribuir para que se realizasse, no final de 2005, uma eleição presidencial cujo resultado representasse efetivamente a vontade do povo.

Poderia citar inúmeros outros exemplos de sua atuação lúcida em prol da democracia e da integração em nossa região e pela paz e prosperidade no mundo. Orgulho-me de ter sido seu parceiro na tarefa de assessorar o presidente Lula em temas de diplomacia e política internacional.

Sua morte deixa um enorme vazio intelectual e humano, difícil de preencher, especialmente nesse momento de pobreza de espírito e estreiteza de visões. Sua memória continuará, porém, a ser uma fonte de inspiração para todos os que querem ver um Brasil altivo, soberano e, ao mesmo tempo, solidário com os povos oprimidos da Terra.”

Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-ministro da Educação, das Relações Institucionais e da Justiça no governo Lula

“Marco Aurélio Garcia foi uma das pessoas mais extraordinárias que conheci dentro do Partido dos Trabalhadores. Foi o que se pode chamar, sem margem de erro, de um grande intelectual orgânico, que pensava a política como um grande território de luta pela emancipação, pela justiça e pela igualdade. E que via nos seus companheiros de Partido, não somente companheiros desta jornada emancipatória, mas também pessoas concretas que contribuíam fortemente com a sua elaboração teórica e as suas formulações doutrinárias. Marco Aurélio era um homem sempre posicionado, mas sempre afeito ao diálogo e à composição, desde que para resguardar os valores superiores que guiaram a sua vida de militante e intelectual comprometido. Fará muita falta o Marco Aurélio, mas todos nos esforçaremos para honrar sua trajetória e a sua memória.”

Emir Sader, sociólogo e cientista político

“Para poucos a fusão das palavras amigo e companheiro cabem tanto como no Marco Aurélio. Não é só a história da esquerda brasileira e da latino-americana que não podem ser escritas sem a presença marcante do Marco Aurélio. A história de muitos de nós, também. Eu o conheci como vice-presidente da UNE, passamos a conviver intensamente quando participamos da fundação do POC (Partido Operário Comunista) – ele pela dissidência do PCB do Rio Grande do Sul, eu pela Polop (Política Operária). Depois foram tempos do exílio, juntos no MIR do Chile. Na volta ao Brasil, sempre amigos e companheiros, agora no PT. Nos vimos pela última vez na Perseu, ele ia a Buenos Aires, eu a Paris, ficamos de nos encontrar na volta, seria na reunião do Instituto Lula, adiada para o dia 21.”

Raul Pont, fundador do PT, ex-prefeito de Porto Alegre
“Perda irreparável para a esquerda brasileira. Há mais de 50 anos começamos a dissidência no velho PCB, buscando construir um partido classista e democrático. Nos reencontram os no PT. Ele e Beth [Lobo] sempre foram referências para a esquerda gaúcha. Um grande abraço e forte solidariedade a família.”

Eloi Pietá, ex-prefeito de Guarulhos/SP, membro do Conselho Curador da FPA

“Marco Aurélio tinha raízes profundas. A mais funda ainda se alimentava do socialismo pelo qual lutou desde sua juventude e que o alimentava ainda hoje. Ele é exemplo de um tipo de militante que precisamos ter e valorizar. Militante da teoria a mais intensa aliada a uma intensa prática coerente com ela. Ele foi um militante completo. Continuará presente.A nossa tristeza é imensa. Saudades grande Marco Aurélio.”

Whashington Quaquá, ex-prefeito de Maricá/RJ, presidente do PT no Rio de Janeiro

“Lamentável! O PT, a nação brasileira que iniciamos e almejamos construir, o povo brasileiro embora possa nem desconfiar disto, a esquerda e todos nós perdemos uma figura maior. Um daqueles que não nascem em linha de produção, porque é fruto do velho artesanato humano é divino, pra quem acredita. Surpreendente a morte de Marco Aurélio Garcia, um dos grandes responsáveis por tudo que somos e nos transformamos: o maior fenômeno político e social da história do povo brasileiro. Um historiador que mais que tudo fez história!”

Iole Ilíada integra o Conselho Curador da FPA, é ex-secretária de Relações Internacionais do PT

Neste triste dia de inverno, a esquerda internacionalista perdeu um de seus grandes ativistas. Um brasileiro cidadão do mundo, para quem a integração latino-americana, mais que uma palavra de ordem ou uma bandeira de luta, era uma diretriz de vida.
Militante de esquerda desde a juventude, fundador do PT e do Foro de São Paulo, um dos pilares da política externa ativa e altiva dos governos Lula e Dilma, o professor Marco Aurélio, como muitos a ele se referiam — não por formalidade, coisa à qual ele não tinha o menor apreço, mas por absoluto reconhecimento e respeito –, deixa uma lacuna impreenchível entre aquelas e aqueles que lutam por um mundo justo, democrático e socialista.
Em todos nós que tivemos o prazer de seu convívio, ficará para sempre a saudade do querido companheiro e amigo, capaz de abrilhantar com sua inteligência e senso de humor qualquer jornada ou situação.
Marco Aurélio Garcia será sempre uma inspiração e um exemplo para a esquerda brasileira e latino-americana. E a maior homenagem que podemos prestar-lhe é levar adiante a luta pelas ideias e ideais aos quais ele dedicou sua grandiosa vida.

Gustavo Codas, economista

“Morreu hoje 20.7.2017, aos 76 anos, Marco Aurélio Garcia. Um intelectual e militante de esquerda, brasileiro, Latino-Americano e internacionalista. Nos anos 1950/60 foi militante do PCB e depois da Polop. Exilado no Chile foi líder do MIR. Ao retornar ao Brasil, de um segundo exílio na França, foi fundador do PT, em 1980. O conheci como secretário de Relações Internacionais do PT. Em 1990, teve papel destacado na fundação do Foro de S. Paulo, do qual foi secretário-executivo durante vários anos. Como assessor especial de Relações Internacionais da Presidência de Lula, foi figura chave para o sucesso nas negociações Paraguai-Brasil em 2008-09, em todas as iniciativas integracionistas e de relações Sul-Sul que foram impulsionadas e na estratégia que resultou na rejeição da Alca.
Estava em plena atividade. Na sexta-feira, 14 de julho, estivemos em um seminário de três fundações partidárias, onde ele expôs, em representação da Fundação Perseu Abramo, do PT, o documento sobre as perspectivas políticas das esquerda no Brasil.
Em 2008, no ato que fizemos para lembrar a nossa amiga comum Nani Stuart, recém-falecida, Marco Aurélio se referiu à dificuldade que temos os ateus na hora de fazer discursos frente à morte de camaradas. Ele lembrou o que disse Simone de Beauvoir quando morreu Sartre. Não consiguiria reproduzir as palavras exatas. Mas era algo como que quando um dos nossos morre, permanece em nós, na nossa memória e sobretudo na continuidade que damos ao seu legado, às suas lutas. Por isso, Marco Aurélio continua presente!”

Valter Pomar, professor de Relações Internacionais da UFABC

“O companheiro Marco Aurélio Garcia faleceu nesta manhã. Presidente nacional do PT e secretário de relações internacionais do PT. Secretário-executivo do Foro de SP. Assessor especial de Lula e de Dilma na presidência da República. Secretário de Cultura em Campinas. Professor da Unicamp, historiador. Exilado na França e no Chile durante a ditadura militar. Vereador em Porto Alegre pelo PCB. Militante do movimento estudantil. No momento não ocupava nenhum cargo na direção do PT. MAG era uma cara legal. Divertido, culto, ateu irredutível, alguém que não tinha vergonha de ser gauche na vida. Fará muita falta! Marco Aurélio, presente!”

Giorgio Romano Schutte, professor de Relações Internacionais da UFABC

“Acabei de receber uma notícia muito triste. Faleceu no dia de hoje um grande pensador da área política, mas sobretudo da área de Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Era um intelectual orgânico que se envolveu ativamente na luta contra a ditadura, pela construção do Partido dos Trabalhadores, do qual foi o seu principal formulador das relações internacionais e depois teve um papel decisivo, de lado do presidente Lula e de Celso Amorim, na teoria e prática da política externa ativa e altiva. Mas Marco Aurélio Garcia foi, sobretudo, uma pessoa inspiradora com grande capacidade intelectual e muito senso de humor. Tive o prazer de conviver com ele em vários momentos da minha vida profissional e política e aprendi muito com ele. Nos brindou em diversas ocasiões com sua presença na UFABC. Vamos sentir sua falta, mas não vamos esquecer suas lições intelectuais e de vida. Adeus companheiro e obrigado por tudo.”

Alexandre Fortes, historiador, professor da UFRRJ, coordenou o Centro Sérgio Buarque de Hollanda implementado por Marco Aurélio Garcia

“Hoje, a esquerda brasileira e mundial perdeu uma de suas mentes mais inteligentes, e um dos seus militantes mais charmosos e encantadores. Um homem que combinava um refinado senso do bom viver com uma entrega apaixonada à causa da libertação humana de todas as formas de opressão e exploração.

Quando cheguei à Unicamp, em 1990, soube que todo mundo estava preocupado com a saúde do Marco Aurélio Garcia, cujo imenso coração já havia dado uns sustos. No ano seguinte, num trágico acidente, Marco Aurélio perdeu sua grande companheira, nossa mestra feminista e socialista Elizabeth Souza Lobo. No velório da Beth, ele me deu um abraço apertado, suspirou, e disse: “- A tua professora…” Essa frase ecoa na minha cabeça até hoje, porque convivi apenas um ano com ela, mas foi uma experiência de aprendizado que mudou minha vida.

Agora, longe do Brasil, recebo a notícia da partida do MAG, e a única coisa que consigo pensar é: “- O meu professor…” Nunca fiz uma disciplina com ele. Tivemos umas duas ou três reuniões de orientação, acompanhadas pela minha assistente júnior Maia Gonçalves Fortes, antes que a política o convocasse de vez para missões mais urgentes e eu fosse adotado pelo Michael Hall, como tantos outros.

A expectativa que eu tinha, quando fui de Porto Alegre a Campinas, de um contato cotidiano com o cara que mais conhecia sobre a história da esquerda no Brasil, nunca se concretizou. Mas tive a oportunidade de conviver com Marco Aurélio nas décadas seguintes, de realizar com ele diversos projetos políticos e intelectuais, de tê-lo como membro “extra” da minha banca, assim como de acompanhar constante a atuação dele, os indefectíveis comentários sarcásticos, as brilhantes entrevistas e declarações.

Veterano de inúmeras batalhas da esquerda latino-americana e mundial desde o início dos anos 1960, MAG sobreviveu para ter a oportunidade de ser um dos artífices de um projeto político de redução das desigualdades sociais, aprofundamento da democracia e protagonismo do Brasil na luta por uma ordem internacional mais justa e equilibrada. Tornou-se personagem de primeira linha nas relações internacionais, particularmente no cenário latino-americano.

Lamento profundamente que não possamos mais contar com sua imensa sabedoria e seu inesgotável bom-humor num momento em que, como observou Benjamin sobre o Angelus Novus de Klee, somos arrastados para trás e só vemos as ruínas se acumularem aos nossos pés.

Será uma imensa responsabilidade zelar pelo legado intelectual e político do Marco Aurélio e extrair dele as lições para enfrentar os desafios de um cenário tão desolador.”

Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC/SP

“Em 2014 em mais uma de suas criminosas investidas contra os palestinos em Gaza, o Itamaraty considerou “inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina”. Já Marco Aurelio Garcia declarou “O que nós estamos assistindo no Oriente Médio, pelo amor de Deus, é um genocídio, é um massacre.

Pois é, ele fazia a diferença. salamaleykun.”

Sérgio Mamberti, ator, produtor cultural

“Adeus querido companheiro de lutas pela Cultura e por um Brasil melhor e mais justo. Marco, meu amigo, sentiremos muito sua falta nesse momento tão grave pelo qual estamos passando. Descanse em paz. Abraço saudoso.”

André Bojikian Calixtre, economista do Ipea

“Morreu o espírito mais brilhante produzido pelo Partido dos Trabalhadores. Marco Aurélio Garcia foi um gigante, articulava pensamentos extremamente complexos com uma facilidade impressionante. Defensor do Brasil, amante da cultura e prenhe de uma conversa profunda sobre os tempos atuais e os desafios da esquerda. Várias vezes tive o prazer de sua companhia, seja nos encontros ao corredor do 3° andar do Palácio do Planalto, ou nos debates em São Paulo com o GRRI, Grupo de Reflexão em Relações Internacionais.

Uma vez ficamos uma boa hora presos no trânsito para Congonhas somente discutindo sobre a sua paixão pelas composições clássicas executadas pelo Quarteto Budapeste. Conversamos também sobre as versões (!) disponíveis para o Tríplice Concerto, de Beethoven, e qual delas seria a melhor (a minha é a gravada por Ferenc Fricsay, com Pierre Fournier ao cello, Geza Anda ao piano e Wolfgang Schneiderhan ao violino, ele preferia uma versão mais antiga).

Com MAG, ou simplesmente “professor”, como o chamávamos, um assunto nunca poderia ser discutido em uma linha única: ele sabia as versões do argumento, de onde vinham as ideias, trazia ao debate as raízes dos problemas. Enfim, era um genuíno intelectual entranhado na razão de Estado que levou o Brasil a sua melhor experiência de política externa desde os tempos de San Tiago Dantas.

Agradeço pela honra e o privilégio de ter trabalhado próximo a esse cara. MAG deixará saudade, falece de forma inesperada e sua ausência é insubstituível aos tempos de desmonte da democracia, cuja narrativa o professor era um dos mais capazes de estruturar.”

Marcia Camargos, historiadora, jornalista e escritora

“Acabo de saber que o companheiro Marco Aurélio Garcia se foi. Independente da sua carreira política, nós estivemos próximos e solidários. Lembro dele vindo em casa com uma Kombi, levar pessoalmente a biblioteca e o acervo pessoal de Hermínio Sacchetta, para o Arquivo Edgard Leuenroth na Unicamp. Depois, toda vez que algum sindicalista ou trabalhador convidado para um encontro em SP era barrado pelo consulado brasileiro do país de origem, seja na África ou no Oriente Médio, os companheiros das organizações anfitriãs me pediam para interceder. Marco Aurélio despachava na hora, liberando os vistos de entrada. E quando estávamos no Cairo, morando na casa do camarada Aldo Sauda, logo após a eleição de Moursi, em um momento político especialmente delicado e perigoso, em que corriam boatos sobre o fechamento dos aeroportos e decretação de estado de exceção, para impedir o candidato eleito de tomar posse, informamos a ele que havia um grupo de pelo menos seis brasileiros ali. Marco Aurélio forneceu seu número de celular pessoal, assim como o da sua assessora, deixando-nos mais tranquilos e amparados. RIP Marco Aurélio Garcia, que partiu justo num momento tão difícil…”

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