Há algo podre no BNDES ou na cabeça dos críticos?
Sem chances de vencer eleições nas urnas, a direita brasileira não tem medido esforços para destruir as instituições e o tecido produtivo do país para com isso tentar aniquilar os legados dos governos Lula e Dilma e ainda jogar o PT para fora do tabuleiro político.
Desta estratégia suicida, talvez o caso mais emblemático seja o do BNDES. Tal qual a Geni da música de Chico Buarque, o banco tem tomado pedradas de todos os lados, inclusive de grandes grupos de mídia – como a Globo e a Abril – que, ao longo dos últimos anos, foram legitimamente beneficiados com grandes empréstimos do banco.
Em meio a essa guerra burra, o economista Paulo Rabello de Castro, atual presidente do BNDES, acaba de informar que o banco produziu uma espécie de dossiê, batizado de “Livro Verde” do BNDES, onde são apresentadas e analisadas as operações realizadas pelo banco desde 2001 até 2016. A iniciativa é louvável e, ao que tudo indica, será oportuna para clarear o debate e quem sabe estancar a campanha leviana e oportunista que vem destruindo uma das mais importantes instituições públicas desse país
Embora o dossiê ainda não esteja disponível para o público, o presidente do BNDES esteve nesta quinta-feira (13) na Rádio Jovem Pan de São Paulo adiantando alguns dos resultados do tal “Livro Verde”. Com uma postura digna e honesta, Paulo Rabello de Castro, um conhecido crítico do “desenvolvimentismo” e membro ativo do Instituto Millenium, defendeu a atuação do banco nos últimos anos, rebatendo com números, sensatez e até bom humor o caminhão de bobagens, desinformações e preconceitos que os entrevistadores Marco Antônio Villa e Denise de Toledo lhe despejavam pelos microfones da rádio (veja o vídeo da entrevista aqui)
Entre outras tantas, Paulo Rabello precisou contar aos dois o que qualquer aluno de jornalismo poderia descobrir em meia hora de pesquisa na internet: que o BNDES não apenas é uma instituição altamente lucrativa, como foi responsável por quase 50% do superávit primário do governo federal entre 2006 e 2016; que essa história de “campeões nacionais” é uma balela repetida de forma irresponsável por gente que não se dá ao trabalho de analisar a carteira de crédito do banco, o qual costuma atender a diversas empresas dos setores considerados estratégicos; que quase metade da carteira do BNDES se destina a pequenas e médias empresas; que não há nenhum vício ou favorecimento ao crédito para empresas brasileiras que atuam em outros países, como nos casos de Cuba, Peru ou Angola; que parcerias do banco com empresas via BNDESPAR, como a que foi feita com o grupo JBS, são na maioria das vezes lucrativas, inclusa a da JBS etc.
Enfim, Rabello de Castro falou com justeza e propriedade aquilo que todos nós brasileiros deveríamos ter condições de saber se os meios de comunicação no país cumprissem sua missão democrática e não estivessem concentrados na mão de um punhado de oligarcas, ironicamente fomentados pelo próprio BNDES.
O que espanta, entretanto, não são os números do “Livro Verde”, os quais em realidade já podiam ser encontrados de forma dispersa nos relatórios anuais que o banco costuma produzir. O que espanta e fica ridiculamente patente no comportamento revelado pelos entrevistadores da Jovem Pan é o absoluto descompromisso da elite econômica brasileira com uma instituição de fomento que nas últimas seis décadas tem sido o principal esteio do desenvolvimento capitalista do país, que é reconhecida e copiada mundo afora por sua eficácia e profissionalismo e que, em última instância, garante àquela mesma elite econômica a sua permanência no prateado vagão da primeira classe.