2017: há uma recuperação da economia brasileira?
A perspectiva para a retomada da economia brasileira em 2017 e o peso da austeridade são discutidos na segunda Nota de Conjuntura do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon), do Instituto de Economia da Unicamp. No primeiro trimestre de 2017, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB cresceu 1% em relação ao trimestre anterior – resultado positivo pela primeira vez desde o último trimestre de 2014. Mas, segundo Pedro Paulo Zahluth Bastos, Arthur Welle e Ana Luiza Matos de Oliveira, autores da nota, não há consenso entre os analistas de que a economia entrou em um processo sustentado de recuperação.
Na sua primeira parte, a nota defende que os dados do IBGE não mostram ainda uma recuperação cíclica no primeiro trimestre nem um impacto positivo da austeridade, mas uma supersafra agrícola e notável crescimento das exportações, tudo apesar da política econômica. Os autores enfatizam que a queda do investimento repetiu o ritmo do trimestre anterior, e o consumo das famílias continuou em declínio em relação ao trimestre anterior, embora tenha ocorrido uma desaceleração do ritmo da queda.
Na segunda parte, os autores discutem possíveis problemas metodológicos dos dados do IBGE, em especial devido à mudança metodológica ocorrida na série de serviços com descontinuidade de série anterior: a base de cálculo da antiga série de serviços é diferente e inferior à base da nova metodologia de pesquisa, o que torna problemática a comparação entre os dados.
Na terceira parte, discute-se o prognóstico para o segundo trimestre. Os dados para o segundo trimestre confirmam a retomada, não havendo problemas de estocagem excessiva de bens como em outros momentos da depressão: crescimento de 1% do setor de serviços em abril em relação a março (após a queda de -2,6% em março); alta de 0,28% do IBC-Br de abril ante março; crescimento de 0,42% do Monitor do PIB (FGV) entre março e abril; expansão de 2,2% do consumo das famílias, de 2,1% do consumo do governo e de 0,39% da FBCF. Ainda, a liberação dos recursos do FGTS pode ter tido um efeito favorável sobre o varejo.
Na quarta parte, os autores discutem os fatores que podem levar a economia a se recuperar e o que a pode atrasar. Segundo a nota, a oferta agrícola e as exportações geram expansão da renda. Porém, se o investimento é determinado pela confiança empresarial na política econômica, o efeito do governo Temer sobre a confiança é nulo ou até negativo, pois o investimento voltou a cair acentuadamente no primeiro trimestre por causa da grande capacidade ociosa das empresas, antes do agravamento da crise política. A recuperação do consumo das famílias demora por causa do alto desemprego, da pequena recuperação do rendimento médio real, do medo da reforma trabalhista e do grande comprometimento da renda familiar com serviços financeiros apesar do esforço de desendividamento, em razão do crescimento dos spreads bancários.
Na quinta parte, a nota mostra que a demanda interna foi beneficiada pelo abandono da austeridade fiscal em 2016, mas é prejudicada por seu retorno precoce e potencialmente contracionista em 2017. Assim como a austeridade foi decisiva para transformar a desaceleração cíclica vivida em 2014 na crise experimentada em 2015, como analisado pela Nota de Conjuntura 1 do Cecon, ela agora atrasa a recuperação da economia.
Finalmente, apontam que, caso ocorra a retomada do crescimento em cenário de reformas, a economia que sairá da crise será menos dinâmica do que a que entrou nela, por causa do novo regime fiscal e do aprofundamento da desigualdade.
Acesse a nota completa aqui: Nota CECON 2