Foi realizado em Madrid, em 3 de julho, um seminário com representantes do Mercosul e da União Europeia (UE) para discutir o acordo de livre-comércio entre as duas partes. Ao mesmo tempo, recomeçou uma nova rodada de negociações em Bruxelas. Durante o encontro na capital espanhola, foi expresso o desejo de firmar o acordo ainda este ano, apesar do contexto internacional não ser favorável.

Um possível acordo de livre-comércio entre o Mercosul e a UE começou a ser discutido há mais de vinte anos, em 1995, com o Acordo Quadro de Cooperação Interregional. Eram tempos favoráveis, pois o neoliberalismo dominava apoiado no discurso da globalização. Acordos importantes de livre-comércio foram negociados à época, como o Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (Nafta), além do início das conversações para estabelecer o Acordo de Livre-Comércio das Américas (Alca).

Já no fim dos anos 1990, o neoliberalismo começou a perder força na América do Sul. O desenvolvimento pautado no comércio externo, como esta visão prometia, não teve êxito, e muitos países afundaram em crises. A partir deste momento, os governos progressistas com propostas de desenvolvimento voltadas para o mercado interno ascenderam. E também foram engavetadas as ideias de criação da Alca e da zona de livre-comércio entre Mercosul-UE. Afinal, se abríssemos nossas “portas” para a Europa, a nossa indústria iria sofrer impactos negativos, perdendo espaço nos mercados domésticos e regional.

Em 2010, foram retomadas as negociações entre Mercosul e UE, mas agora os tempos são outros. Alguns partidos que defendem a agenda neoliberal nos países do bloco sul-americano voltaram ao governo, apesar de o contexto internacional não estar tão alinhado assim com este pensamento. No seminário em Madri, por exemplo, foi expresso o temor frente às ideias protecionistas, com Donald Trump e com o Brexit conquistando terreno. Além disso, o Brasil passa por forte crise política, com um projeto de política externa quase inexistente.

A questão do protecionismo sempre assombrou o acordo. A UE possui grandes barreiras aos produtos agropecuários que estão embasadas pela Política Agrícola Comum (PAC). O PAC é um programa que dá subsídios à produção agropecuária, além de estimular a preferência pelos produtos europeus, e constitui um dos três pilares do bloco. Ou seja, se o acordo for firmado, provavelmente será nos moldes que a UE quer e não haverá grandes ganhos ao setor agropecuário sul-americano, além de desmantelar ainda mais a indústria da região.

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