“É necessário unificar o movimento negro”, diz militante da Conen
Por Elen Carvalho e Jamile Araújo
Em Salvador para participar da 4ª Plenária Nacional da Convergência da Luta de Combate ao Racismo no Brasil- Convergência Negra, Flávio Jorge, membro da Soweto Organização Negra de São Paulo e da Executiva da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), concedeu entrevista para o Brasil de Fato Bahia sobre o papel da Convergência Negra e os desafios do movimento negro na atual conjuntura brasileira.
A plenária aconteceu no último sábado (1º) e reuniu mais de 100 pessoas de todas as regiões do Brasil. Entre as pautas prioritárias estão a luta contra o genocídio da juventude negra, o combate ao feminicídio, a criminalização da LGBTfobia e o enfrentamento à guerra às drogas. Ao final da plenária, foi elaborada a 2° Carta Salvador, que traz as eleições diretas para presidência no Brasil como primeiro passo para uma ampla disputa política que permita criar força popular suficiente para convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. A Carta completa está disponível aqui.
Confira e entrevista na íntegra:
Brasil de Fato: O que é a Convergência Negra?
Flávio Jorge: A Convergência da Luta de Combate ao Racismo no Brasil, Convergência Negra, começou a ser estruturada a partir de uma reunião nacional de organizações do movimento negro brasileiro, realizada em novembro de 2015 na cidade de Salvador, Bahia. Como continuidade dessa reunião, no dia 21 de janeiro de 2016, durante o Fórum Social Temático de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, lideranças do movimento negro representando 21 organizações nacionais, regionais e estaduais de 13 estados brasileiros, decidiram criar essa articulação e iniciar um diálogo político para a construção da unidade da luta de combate ao racismo em nosso país.
Por que é importante reunir e unificar organizações do movimento negro nesse momento da conjuntura?
Como afirma a Declaração de Porto Alegre, que tornou pública a criação da Convergência Negra, o mundo vive uma grave crise econômica, política, ambiental, humanitária e moral.
O povo brasileiro não está imune a essa crise, que tem sido agravada com o impeachment da presidenta Dilma e com as medidas regressivas, de cunho neoliberal, que estão sendo impostas aos brasileiros e brasileiras pela maioria conservadora do Congresso Nacional e pelo governo golpista de Michel Temer e os partidos que compõem a sua base de sustentação.
São medidas que afetam diretamente a população negra, que é 53% [do país], ou seja, a maioria da população brasileira. Para enfrentarmos essa grave crise, de âmbito nacional e internacional, é importante e necessário unificar as organizações do movimento negro brasileiro.
Quais desafios que o movimento negro enxerga nesse momento?
A Conen [Coordenação Nacional de Entidades Negras] tem a compreensão de que o golpe em curso no Brasil é dirigido por elites. Estas sempre elogiaram a colonização luso-tropical-européia que, fundadas na mentalidade escravocrata do século 19, continuam a pensar o Brasil como Casa Grande e Senzala.
São elites que não aceitam um projeto de desenvolvimento com inclusão social e distribuição de terra, renda e riqueza, com menos racismo, desigualdade, miséria, pobreza e fome. Não aceitam políticas públicas, tampouco ações dos movimentos negros que têm garantido mudanças nas condições de vida e trabalho da população negra, a diminuição das desigualdades socioeconômicas decorrentes das diferenças raciais e a superação do racismo no Brasil. Essas são as razões principais do golpe!
Para a Conen, o principal desafio do movimento negro é, além de lutarmos contra o governo golpista de Michel Temer, pelas bandeiras que unificam as Frentes Brasil Popular, a Frente Povo sem Medo e a Convergência Negra no imediato, é pensarmos um projeto e um programa político de médio e longo prazo para um Brasil que, mesmo valorizando nossos avanços e conquistas, continua sendo um país injusto, onde as desigualdades sociorraciais continuam imensas.
Quais são as consequências da plenária nacional?
Na plenária nacional, as lideranças que estiveram presentes, representado as principais forças políticas que lutam pelo combate ao racismo no Brasil, demonstraram vontade política para unificarmos o movimento negro brasileiro para resistir e enfrentar a grave crise que estamos vivenciando no Brasil e no mundo. Essa vontade política está expressa na Segunda Carta de Salvador aprovada por consenso no final da plenária.
Aproveito para destacar a expressiva participação das juventudes negras de diversas organizações, que estão dispostas a organizar o 2º Encontro Nacional da Juventude Negra (Enjune). Na ocasião, também lançaram a campanha “Basta de extermínio da Juventude Negra” que deverá ser implementada pela Convergência Negra.
Longa vida para o movimento negro brasileiro!
Edição: Monyse Ravena