Diante de um público composto majoritariamente por cubanos de direita em Little Havana, bairro situado em Miami, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que irá recuar em algumas partes do acordo de aproximação com Cuba implementado por Barack Obama. As viagens de turismo de estadunidenses para a ilha ficarão mais difíceis e o fechamento de parcerias entre empresas norte-americanas e companhias controladas total ou parcialmente pelo governo cubano serão proibidas.

Devemos lembrar que a história entre os dois países foi marcada pela Guerra Fria e pelo embate ideológico entre socialismo e capitalismo. A revolução cubana não foi, em seu início, socialista, mas Cuba acabou se aproximando da União Soviética em detrimento da postura ofensiva dos Estados Unidos depois da revolução, pois esta ameaçava os interesses estadunidenses. As relações diplomáticas entre os dois foram cortadas em 1961 e, no ano seguinte, o presidente John Kennedy decretou o embargo de comércio com a Ilha.

Somente com Obama ocorreram tentativas reais de retomada de laços econômicos e políticos. Em seu governo, realizou a primeira viagem de um presidente dos EUA a Cuba em 88 anos, criou nova embaixada em Havana e tornou mais brandas as leis para turismo e negócios. Porém, não conseguiu a revogação do embargo econômico aplicado à ilha, já que tal proposta não foi aprovada no Congresso durante seu governo – e agora, com certeza, nem passará perto de votação nas instituições políticas.

Por seu turno, Trump, mantendo-se com uma política externa pouco tolerante e fechada ao diálogo, disse que irá endurecer as sanções econômicas e que as medidas aplicadas por Obama só serviram para fortalecer o regime cubano, sendo assim um acordo unilateral. Condicionou, ainda, uma possível aproximação com a ilha à ampliação da liberdade na sociedade, à liberalização dos presos políticos, à legalização de todos partidos políticos e à organização de eleições livres.

Imaginem se, para negociar com os EUA, os países impusessem que os presos em Guantánamo fossem libertados e que esta prisão fosse fechada, que o exército norte-americano parasse de inferir na liberdade das sociedades, sobretudo no Oriente Médio, e que todos partidos no país tivessem a mesma chance de serem eleitos, saindo da dicotomia entre Republicanos e Democratas. Sim, na “maior democracia” do mundo somente dois partidos são eleitos para cargos há décadas, isso sem falar no seu mecanismo que dá margem para que o candidato mais votado não ganhe – como ocorreu nas últimas eleições. Ou seja, mais uma vez os EUA usando a retórica de democracia e liberdade para mascarar seu imperialismo e seus reais interesses.

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