Em nota publicada após o discurso do Michel Temer na quarta-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, rebateu as críticas do presidente da República em seu pronunciamento. Nela, afirma que há “fartos elementos de prova” que fundamentam a denúncia de corrupção, como laudos da Polícia Federal, registro de voos, contratos, depoimentos, gravações, imagens, vídeos, certidões, entre outros documentos.

Quanto ao ex-procurador da República Marcello Miller, a Procuradoria Geral da República registrou que Miller não atuou na delação nem nos acordos de colaboração premiada dos executivos do Grupo J&F. Ele trabalhou na Operação Lava Jato até julho de 2016, quando passou a atuar na Procuradoria da República no Rio de Janeiro, de onde pediu exoneração em fevereiro deste ano, sendo desligado em abril. A delação da JBS foi proposta em abril, e a quarentena referida por Temer no pronunciamento só é exigida de juízes.

Na nota, Janot garantiu que “ninguém está acima da lei ou fora do seu alcance”. A denúncia da PGR pede, além da condenação dos acusados por corrupção passiva, a perda da função pública ou mandato e indenização aos cofres públicos de ao menos dez milhões de reais por Temer e dois milhões de reais por Loures.

Deputados da base aliada, ainda fiéis ao governo, afirmaram que há um complô contra Temer, que a denúncia não tem fundamento e não traz fatos comprometedores contra Temer, é apenas uma tentativa de enfraquecer o governo. Além disso, Temer não foi condenado, está sendo acusado e tem o direito de se defender. Na visão desses deputados da base, a denúncia será arquivada pela Câmara.

No entanto a própria base está dividida. O líder do PMDB do Senado, Renan Calheiros (AL) afirmou que Temer achou que poderia governar o Brasil influenciado por um presidiário de Curitiba (referindo-se a Eduardo Cunha) que continua a receber dinheiro, e que e o melhor seria seguir o conselho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso que defende a renúncia de Temer e antecipação de eleições.

O PSDB reforçou o movimento de desembarque do partido da base do governo e, não deverá dar seu apoio em bloco na votação da admissibilidade de denúncia no plenário da Câmara. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde será realizada a primeira etapa do processo, o PSDB tem sete assentos e pelo menos cinco tendem a votar contra o governo. Dos 46 integrantes da bancada do PSDB na Câmara, quinze já afirmaram abertamente que votarão pela admissibilidade da denúncia.

Outra ala do PSDB, comandada pelo Instituto Teotônio Vilela, presidido por José Aníbal (SP), com adesão dos quatro ministros Bruno Araújo (Cidades), Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Luislinda Valois (Direitos Humanos) e Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo) e ainda o senador afastado e investigado Aécio Neves (MG), está engajada em manter o partido no governo e, em carta divulgada no dia 26 de junho, referendou a defesa de Temer de que não há provas para condenação.

Para a oposição a situação é inédita no país: a denúncia é grave e existem provas do crime de corrupção. A oposição sugere suspensão do recesso para votar denúncia contra Michel Temer. A líder do PCdoB, deputada Alice Portugal (BA), defendeu que a apreciação da denúncia pelo Plenário ocorra em um domingo, com transmissão ao vivo por todos os meios de comunicação, “para que a população possa conferir como votam os deputados”.

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