A primeira ministra britânica, Theresa May, convocou as eleições parlamentares antecipadas para o último dia 8 de junho na expectativa de fortalecer a posição de seu Partido Conservador (Tories) no parlamento. As eleições, em princípio, deveriam ocorrer somente em 2019 e os conservadores governavam sozinhos com um total de 330 deputados, quatro a mais do que o necessário para ter a maioria de 326.

O argumento oportunista era que o governo necessitava se fortalecer politicamente para enfrentar as negociações da saída do Reino Unido da União Europeia, conhecido como Brexit, que se iniciará em duas semanas e que serão duras, na avaliação da primeira ministra.

No entanto, antecipar as eleições foi um “tiro no pé”, pois os eleitores reduziram o apoio aos Tories que saíram desta eleição com 318 parlamentares, doze a menos do que tinham e para continuar governando em posição de maioria terão que compor com algum outro partido. Com os 24 parlamentares eleitos pelo Partido Liberal Democrata (Whigs) será difícil, pois seria incoerente um partido que foi contra deixar a União Europeia vir para o governo neste momento para apoiar a negociação da saída. Resta aos Tories fechar um acordo com o pequeno Partido Unionista Democrático (DUP), da Irlanda do Norte, que elegeu dez parlamentares. Eles têm o número de deputados que a primeira ministra precisa, mas tem o inconveniente de ser um partido de extrema direita que se envolveu com paramilitarismo na disputa com a população católica pela permanência da região no Reino Unido e que custou a vida de cerca de três mil pessoas, a maioria civis católicos. Além disso, o DUP é extremamente reacionário em relação ao aborto e relações homoafetivas de qualquer tipo.

Enquanto os conservadores se debatem com essa situação que eles mesmos criaram, os trabalhistas (Labor) comemoram. Para tristeza dos “Blairistas” e adeptos da Terceira Via do partido, seu novo líder Jeremy Corbin foi o grande vitorioso desta eleição. Não governará o Reino Unido, mas aumentou a bancada trabalhista de 232 para 261 deputados, 29 a mais, graças a uma campanha pela esquerda em defesa dos direitos sociais, pela gratuidade da educação universitária e pela reestatização de certas instituições que os conservadores vêm privatizando desde que Margareth Thacher assumiu o governo em 1979. Mesmo o ataque terrorista que causou várias mortes poucos dias antes da eleição não beneficiou os conservadores, como normalmente acontece, pois o eleitorado entendeu que a ausência da polícia para prevenir os ataques se devia à política de austeridade do governo e dos cortes no orçamento conforme denunciado por Corbyn.

As discussões com a União Europeia se darão em torno de várias questões, mas as principais serão o acerto de contas entre o que o Reino Unido deveria ter pago ao bloco e o valor a receber de volta em forma de subsídios, as condições para um acordo de livre comércio e os critérios para ir e vir entre o continente europeu e a Inglaterra.

O primeiro item sempre foi controverso a ponto de Margaret Thatcher, quando era ministra, sempre bater na base e perguntar sobre “o meu dinheiro”, mas a visão da Comissão Europeia é que o Reino Unido deve para a Europa, e muito. Um acordo sem ônus para o acesso ao mercado do continente também parece difícil. A Noruega, por exemplo, paga mais de um bilhão de euros por ano para ter este direito, mas trata-se de uma economia pequena. Quanto não custaria para a Inglaterra, uma economia muito maior? E no quesito, direito de ir e vir, a situação também será complexa considerando o número de ingleses que vivem no continente e os europeus que vivem em território inglês. Não dá para simplesmente deportar os imigrantes de cada lado.

Considerando, que do lado da União Europeia teremos, entre outros, a Alemanha e França com seus dirigentes políticos Angela Merkel e Emmanuel Macron fortalecidos e ao mesmo tempo decepcionados com a postura inglesa, pode-se esperar negociações duríssimas e não seria difícil que Theresa May renunciasse ao cargo e convocasse novas eleições no curto prazo.

`