Na noite de sexta-feira, 26 de maio, pouco mais de uma centena de pessoas se reuniu ao ar livre na praça anexa à Estação Guilhermina-Esperança, linha leste-oeste do metrô, à luz de um lampião, para mais uma das batalhas de poesia que acontecem toda última sexta feira do mês. O Slam da Guilhermina, intervenção artística e cultural nascida em 2012, na Zona Leste de São Paulo, reúne poetas marginais da periferia de São Paulo.

Em seu quinto ano, é a segunda batalha de poesias do Brasil. Nela, qualquer pessoa tem o direito à palavra e pode se manifestar por meio da poesia. É uma apresentação competitiva, na qual o júri formado pelo público voluntário avalia cada apresentação, com notas de 0 a 10. Os concorrentes recitam poesias autorais, com até três minutos de duração. Na primeira etapa, em que vinte poetas apresentam seu trabalho, cinco são classificados para a segunda rodada, novas poesias são mostradas e os três melhores concorrentes duelam novamente para o júri eleger o slampião da noite. O que está em jogo é a força da poesia e a interpretação do seu autor.

Assim como os saraus, os slams também vêm crescendo e ganhando espaço na cena de arte de rua da periferia paulistana. Com a falta de lugares públicos destinados à cultura, a praça anexa à estação do metrô – símbolo do fluxo constante e da transitoriedade que os meios de transporte público possibilitam – torna-se palco dessa atividade cultural e evidencia a precariedade de equipamentos da região. Privilégio de moradores, trabalhadores, estudantes e visitantes que acessam o bairro de metrô. É a ocupação do espaço público.

O evento expressa as críticas sociais dos moradores da periferia, que em suas poesias trazem à tona as tensões políticas do Brasil atual. Luta por moradia, pobreza, tensões de identidade, racismo, machismo, homofobia, drogas, confrontos com a lei, discriminação, exclusão e morte expõe a dinâmica do dia a dia da periferia e escassez de direitos que permeia a vida de seus moradores. Misturando realidade e arte poética, a radicalidade das palavras denuncia a revolta com a violência e injustiça que a periferia sofre.

Lá onde estão presentes as condições de miséria, privação e exclusão. Lá onde falta escola, saúde, transporte, lazer e cultura, a poesia nasce como resistência e preenche a praça, invade a rua, traz a beleza para o cotidiano. Expressão de arte e liberdade, o slam é o grito incontido da angústia que esses jovens carregam no peito e escorre pela boca.

Slam da Guilhermina

Quando: Toda última sexta-feira do mês

Onde: Praça anexa à estação Guilhermina- Esperança, linha vermelha do metrô
Horário: 20hs

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