Projeto nacional da esquerda é necessário para superar a crise
O que fazer: socialismo ou barbárie? foi o tema debatido no encerramento do 3º Salão do Livro Político, realizado de 5 a 8 de junho, no Tucarena, em São Paulo. A Fundação Perseu Abramo (FPA) participou do evento e distribuiu 350 exemplares de suas publicações, além transmitir ao vivo a abertura, com a palestra da ex-presidenta Dilma Rousseff, e entrevistar dezenas de personalidades que passaram pelo local ao longo da semana.
A última mesa, na noite de quinta-feira, teve como debatedores o economista e presidente da FPA, Marcio Pochmann, o presidente da Fundação Lauro Campos, do PSol, Juliano Medeiros, o presidente da Fundação Maurício Grabois, do PC do B, Renato Rebelo, e o líder do PDT, possível candidato à presidência da República, Ciro Gomes.
A necessidade de reconstrução de um projeto nacional protagonizado pela esquerda brasileira como única alternativa viável para superar a atual crise foi consenso entre os debatedores, além da luta essencial para a derrubada do governo Temer e da realização de eleições diretas.
Pochmann abordou em sua exposição o processo histórico brasileiro que resultou em uma sociedade extremamente desigual e lembrou que não necessariamente o caos que vivemos hoje significa ausência de horizonte. “A aceleração da mudança no Brasil foi produto do progresso técnico com base na expansão da riqueza, e a partir do conflito se originou o desenvolvimento social. A crise propicia mudanças históricas”, disse. E citou como exemplos duas grandes mudanças ocorridas no país: a dos anos 1880, que resultou no fim da monarquia e da escravidão, e a de 1930, que decretou o fim da sociedade agrária.
De acordo com Juliano Medeiros, os processos de mudança mantiveram a concentração do poder econômico, e o golpe ocorrido em 2016 confirma o fim de um ciclo e da agenda política da esquerda que perdurou até ali. “Quando se iniciou com a Constituição de 1988, houve ampliação dos direitos sociais, mas prevaleceram a economia monopolista, financeirizada e subalterna do ponto de vista internacional. Com o fim do ciclo, a classe dominante criou uma frágil aliança e passou a implantar uma agenda de retrocessos, com as reformas”, avaliou. Para ele, o que está em jogo é a reestruturação da natureza do Estado brasileiro e a localização do Brasil na divisão internacional do trabalho. “Os desafios da esquerda são a produção de um balanço de sua experiência à frente do governo federal e de um programa que contemple uma agenda política estratégica”.
Renato Rabelo falou sobre a importância da luta pelo socialismo no mundo atual e sobre a atualidade da teoria marxista. “Vivemos uma grande crise, pois a classe dominante sabotou o governo Dilma e assaltou o poder por meio de um golpe parlamentar. Passou a negar a Constituinte de 1988, e a destruir direitos. Segundo ele a greve geral ocorrida em abril foi política, supera as questões corporativas, e deve ser ainda mais forte no dia 30 de junho. “Nossa luta por eleição direta é para garantir 2018”, pontuou.
Ciro Gomes afirmou que Brasil precisa celebrar a ideia do projeto nacional de desenvolvimento e assumir como objetivo nacional permanente a superação da miséria e sua sequelas. “O que faz um país se afirmar é empreender, trabalhar, produzir, ganhar renda, salário, educar os filhos, fortalecer a base sanitária da sociedade e andar sem medo nas ruas. Mas isso é o oposto do que está ocorrendo no Brasil”.
Disse ainda que fazer o enfrentamento da pobreza sem crescer é até possível, mas acentua dramaticamente os conflitos com o reacionarismo, pois trata-se de tomar de quem tem para distribuir a quem não tem. “Crescendo, essas tensões podem ser atenuadas, podemos até impor fissuras no grande pacto conservador do país dado o tamanho da tragédia. Uma delas é a gravíssima desindustrialização”.