Em seminário organizado na última quarta-feira, 31 de maio, pela Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) na Unicamp, três grandes estudiosos de Marx foram convidados a refletir sobre a sua principal obra: “O Capital”.

As palestras foram riquíssimas e podem ser vistas neste link. José Paulo Netto (UFRJ), Luiz Gonzaga Belluzzo (Unicamp) e Michael Heinrich (Universidade de Berlim) trouxeram à luz diversos aspectos ainda pouco estudados deste livro que, segundo consta, só perde para a bíblia em número de edições e leitores.

Dentre tanta coisa interessante que foi tratada, gostaria de chamar a atenção para a exposição do professor da Universidade de Berlim – a qual infelizmente está em inglês e ainda não tem tradução para o português.

Tendo participado do grupo que pesquisou e publicou – sem qualquer edição – os manuscritos dos volumes II e III de “O Capital”, Michael Heinrich pôde mergulhar na leitura das correspondências e anotações de Marx, para a partir delas tentar interpretar o que ficou ausente no texto e na concepção teórica que orientou a edição organizada por Engels, publicada em 1894, onze anos após a morte de Marx.

A boa nova é que desse esforço de reconstrução e reinterpretação de “O Capital” abre-se um imenso leque de possibilidades para novas pesquisas, pois, ao que tudo indica, Marx foi percebendo que as intensas transformações do capitalismo naquele período em que escrevia os manuscritos de “O Capital” (primeira metade da década de 1860) exigia um aprofundamento de sua teoria capaz de incorporar a centralidade das finanças internacionais na dinâmica de acumulação e sua relação com as crises.

Além disso, já em fins da década de 1870, quando ainda resistia a publicar os volumes II e III, Marx também teria se dado conta de que as políticas econômicas manejadas pelos Estados nacionais, assim como os Bancos Nacionais da época, jogavam um papel crucial na dinâmica capitalista, tanto no que tange as suas influências nas agudas crises de crédito, quanto nas crises de longa estagnação que afetavam a economia europeia naquele período.

Por fim, para Michael Heinrich, “O Capital” de Marx continua sendo a principal ferramenta teórica para se compreender o capitalismo, mas assinala a importância de considerá-la como “qualitativamente incompleta”, isto é, uma obra teórica, apresentada em três volumes, que para ser compreendida em sua totalidade deve levar em conta os insights que Marx teve ao final de sua vida, mas que ficaram de fora da edição conduzida por Engels.

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