As discussões sobre “crimes e castigos” presidenciais também se apresentam neste momento nos Estados Unidos. Referem-se a fatos que vieram à tona durante a campanha presidencial no ano passado e que continuam repercutindo.

O primeiro deles foi a denúncia de que a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, quando ocupou o cargo de Secretária de Estado entre 2009 e 2011, usou um servidor particular de internet e não o usual do Departamento, o que poderia ter exposto milhares de documentos a hackers e vazamentos ameaçando a segurança do país. Constatou-se também que ela não formalizou ou pediu qualquer autorização para usar o servidor privado.

No entanto, após uma investigação sobre um pacote de quase 30.000 e-mails, o Diretor do FBI, James Comey, anunciou na época que o feito de Hillary foi descuidado, mas não representava má fé e assim ele não recomendaria seu indiciamento. Porém, a menos de 11 dias da eleição, o mesmo Comey, anunciou que o FBI iria investigar um novo pacote de e-mails enviado através do mesmo servidor privado. Este anúncio foi música para os ouvidos do candidato do Partido Republicano, Donald Trump, que subiu o tom das críticas à adversária dizendo que “se fosse presidente, a prenderia por atentar contra a segurança nacional”.

Aparentemente, James Comey, no início não quis se indispor com a candidata considerada favorita nas pesquisas e, posteriormente, quis agradar ao candidato que venceria as eleições, dando-lhe um importante elemento de campanha. Inicialmente, ele foi mantido no cargo, mas acabou demitido a cerca de uma semana.

Contra Trump, no final da campanha e após sua posse, pesaram denúncias de que ele teria sido apoiado por hackers russos que teriam interferido nas comunicações da campanha da adversária. Para corroborar essa tese, somaram-se as declarações do presidente Putin de que preferiria a vitória de Trump, as declarações do próprio Trump de que não apoiava as sanções dos países da OTAN contra a Rússia e que achava que não era de interesse dos EUA de se imiscuirem em assuntos internos de um país distante como a Síria (apoiado pelos russos).

A pressão política exercida pelo Partido Democrata após a eleição, levou o FBI a também investigar supostas ligações de assessores de Trump com autoridades russas. No início de seu governo, foi descoberto que seu Conselheiro para Segurança Nacional, Michael Flynn, havia se reunido com o Embaixador da Rússia, Sergey Kislyak, para discutir as sanções aplicadas contra este país. Porém, ele teria mentido para o vice– presidente, Mike Pence, sobre o conteúdo da conversa. Acabou demitido e entrou na lista dos investigados.

Há pouco mais de uma semana, Trump demitiu o diretor do FBI, James Comey, que respondeu com um memorando onde denuncia o presidente por ter-lhe pedido, ainda no mês de fevereiro, para “deixar para lá as investigações sobre Michael Flynn, que seria boa gente”! Se essa denúncia for comprovada, representa um ato de prevaricação do presidente norte-americano que pode levar ao seu impeachment.

Em continuidade a este processo, foi nomeado um ex-diretor do FBI, Robert Mueller, como conselheiro especial da investigação por iniciativa do vice-secretário da Justiça, que tem autonomia para este tipo de iniciativa.

`