Flagrante
Um dos chefes da quadrilha que assaltou o país há um ano, Michel Temer, foi colhido por um flagrante. Avalizava a compra do silêncio de outro chefe da mesma organização que conduziu o golpe de estado de 2016, se encontra preso e se tornou conhecido no país pelos métodos de chantagem que costuma utilizar nas relações políticas: Eduardo Cunha. Segundo as informações correntes na imprensa, o silêncio de Cunha foi comprado por 500 mil semanais por 20 anos.
Uma velha raposa foi colhida, num momento de distração, com a boca cheia de penas. Confirma-se assim diante da sociedade o caráter corrupto do grupo que impediu por meio de um processo fraudulento, uma Presidente honesta, eleita por 54 milhões de brasileiros e assumiu as rédeas do país para executar o Programa derrotado nas urnas em quatro eleições sucessivas: abrir mão da soberania nacional no que diz respeito às fontes de energia – as jazidas do Pré-sal – indispensáveis ao desenvolvimento autônomo do país e a venda de terras a estrangeiros; destruir as conquistas dos trabalhadores que resultam de mais de um século de lutas expressas nas Reformas Trabalhista e da Previdência Social.
O segundo alvo da operação, o Senador Aécio Neves protesta inocência e só consegue expor a imagem do cinismo que o acompanha desde as primeiras articulações políticas iniciadas com o anúncio dos resultados eleitorais de 2014 e que resultaram na composição de forças que deram suporte ao Golpe de 2016.
Temer já não reúne condições para conduzir a pauta de reformas contra os direitos dos trabalhadores e a soberania nacional, fundamento da ruptura da Constituição Democrática de 1988. Foi lançado ao mar por seus apoiadores para que o golpe prossiga sua agenda. A afirmação da tarde desta quinta-feira, 18 de maio: “não renunciarei” reflete apenas a manifestação do instinto de sobrevivência de um personagem lamentável. Alguém que parece ter emergido do submundo de uma peça de Shakespeare para assombrar os viventes com sua capacidade de mesquinhez, intriga, traição e impostura.
Nessa novela de quinta categoria produzida e dirigida pela Rede Globo de Televisão, em certos momentos personagens de fancaria se rebelam contra o script, imaginando que escaparão da lógica imposta pela diretor da cena. Em vão. Temer seguirá o destino dos que o precederam na pantomima oferecida desde a Ação 470: o ostracismo ou, em alguns casos, a prisão.
O país não vai alterar esse folhetim se não romper, pelas mãos dos movimentos sociais dos trabalhadores, a partir da ocupação das ruas, com o monopólio dos roteiristas: esse anacronismo que resiste ao país e à Constituição, o monopólio das famílias controladoras das redes de comunicação social, em particular a Rede Globo de Televisão.
Os movimentos populares que vêm acumulando forças, na disputa do imaginário da sociedade brasileira, sobretudo com as mobilizações de meados de março último, com a Greve Geral de 28 de abril, com a vigorosa manifestação do 10 de maio em Curitiba em defesa de Lula diante do Tribunal de Exceção definem o contorno de um discurso que vai sendo absorvido pelo cidadão comum: a Reforma Trabalhista impõe ao país uma regressão que nos remete aos tempos da escravatura; a Liquidação da Previdência Social abole a possibilidade da velhice com dignidade e rompe o pacto de solidariedade entre a geração presente e a que a sucede em benefício do capital rentista que investe na Previdência Privada. Deter essa agenda criminosa contra direitos conquistados passa pela destituição de Temer e pela convocação de eleições Diretas Já.
A etapa política que se abriu na tarde de 18 de maio prepara o processo de eleições indiretas para Presidente, a partir do voto de um Congresso sem qualquer resquício de autoridade política perante o país, objetiva acelerar essa agenda rejeitada pela esmagadora maioria dos brasileiros.
Os movimentos sociais que irão às ruas no próximo dia 24, convocados pelas centrais sindicais e frentes populares dão clareza e concisão ao seu discurso: “Contra a Reforma Trabalhista, contra a Liquidação da Previdência Social e por Diretas Já!” A elaboração política desta síntese pode significar o freio necessário ao desmonte do projeto antinacional e antipopular em curso. A ação das ruas é que romper a lógica criminosa do script traçado para essa tragicomédia que parece não ter fim.