Com a recessão destruindo a nossa economia (o PIB per capita já acumula uma queda de 9,1% desde 2014, enquanto a chamada “absorção doméstica” já despencou mais de 11% nos últimos dois anos) os rentistas brasileiros começam a se movimentar para manter viva a galinha dos ovos de ouro.

Ocorre que com a inflação abaixo da meta (nos últimos doze meses o IPCA ficou em 4,08%) e com perspectivas de queda ainda maior até o final do ano, os donos da gaita já estão falando em rever a meta de inflação para baixo, sob o argumento de que estaríamos caminhando para um padrão monetário mais civilizado.

Só que não!

Primeiro, porque a aguda queda que presenciamos é reflexo de uma das maiores barbaridades da história da política monetária no mundo! Com o PIB em queda livre e o câmbio valorizando, o BC do Brasil manteve a maior taxa real de juros do planeta, girando em torno de 7% ao ano.

Segundo, porque o nosso “regime de metas” é dos mais burros e engessados do mundo, mirando em um índice de inflação que não expurga variações de preços produzidas por choques exógenos (quebra de safra, crise hídrica, desvalorização cambial, etc) nem tampouco afasta as variações dos preços administrados, cujas flutuações decorrem de decisões políticas e nada tem a ver com excesso de demanda ou nível da taxa de juros.

Terceiro, porque muitos preços importantes na estrutura de custos das empresas brasileiras (alugueis, energia, pedágios, telefonia, etc.) ainda são corrigidos de acordo com algum indexador (IGP-M, IPCA, INPC, IPC) e, portanto, transmitem a inflação do passado para os preços futuros, dificultando a manutenção da inflação nos tais patamares civilizados.

Ou seja, como ainda estamos longe, muito longe de ter conseguido equacionar o problema inflacionário, a sugestão de rever o centro da meta, antes de ajudar a controlar a inflação, deverá sim dar argumentos aos financistas do BC para subirem a taxa de juros sempre que a economia ameaçar crescer um bocadinho.

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