O interrogatório de Lula mobilizou milhares de militantes em Curitiba, no último dia 10. A opinião consensual é que ele se saiu bem, reafirmou sua inocência e demonstrou que Moro é parcial e comprometido com os grandes veículos de comunicação ao deixar vazar conversas telefônicas e trechos de delações. Depois disso, a ofensiva sobre Lula e o PT tem se agravado, e a mídia passado a jogar baixíssimo.

No dia 10, a edição do Jornal Nacional não teve tempo de editar o depoimento de Lula, que foi liberado já em cima do horário do telejornal entrar no ar. A ofensiva foi feita pela Globonews, que convidou seu grupo de quatro âncoras para comentar trechos do interrogatório, na tentativa de construir uma opinião negativa sobre ele durante o interrogatório.

No dia seguinte, o Jornal Nacional (JN) teve duração de 53 minutos e 18 segundos, 20 minutos a mais que as edições normais. Mais de 42 minutos, 80% de seu tempo, foram dedicados a um material editado do depoimento de Lula, ressaltando que ele negara as acusações de propriedade do tríplex e sua recusa em responder perguntas sobre o sítio em Atibaia.

Nessa mesma edição, o JN trouxe também notícias sobre o conteúdo da delação premiada do casal de publicitários Monica Moura e João Santana, que acusava Lula de ser chefe do esquema de corrupção da Petrobras, além de dizer que Dilma sabia dos desvios da Petrobras e do caixa 2 de campanha do PT. Monica Moura falou que usava uma conta de e-mail secreta para troca de informações com Dilma sobre o andamento das investigações da Lava Jato. O registro de abertura da conta de e-mail tem data dúbia e representa elemento muito frágil para constituir prova, qualquer pessoa pode alterá-lo. As delações premiadas de João Santana e Mônica Moura serão base para a abertura de inquéritos contra os citados.

Os ataques da imprensa se intensificaram na última edição da revista Veja (12-05), que veiculou uma capa repugnante e criminosa, com foto em preto e branco da ex-primeira-dama, Marisa Letícia, com a manchete “A morte dupla”, acusando Lula de usar o nome da ex-primeira dama para se livrar das acusações. Há que esclarecer que quem primeiro mencionou dona Marisa no depoimento foi o juiz Sérgio Moro, e assim o fez mais de 40 vezes ao longo das quase cinco horas de depoimento do ex-presidente. Evidentemente Lula respondeu citando-a, mas sem nenhum conteúdo diferente do já relatado em março de 2016, com dona Marisa ainda viva, quando Lula foi levado coercitivamente para depor na Operação Lava Jato.

Além da imprensa, agências publicitárias também aderiram à ofensiva e no mesmo final de semana. As Lojas Marisa lançaram uma campanha nas redes sociais para o dia das mães, entre o escárnio e o crime, dizendo em tom jocoso: “Se sua mãe ficar sem presente, a culpa não é da Marisa”, em forte alusão ao depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro. A campanha provocou revolta, boicote e retomada da lembrança de denúncia das Lojas Marisa por trabalho escravo.

O jornalismo praticado pela imprensa brasileira, com destaque para as Organizações Globo e a Editora Abril, na tentativa de criminalizar Lula e o PT, rompe com os limites da ética jornalística, fere a democracia, desestimula a pluralidade de opiniões e produz um pensamento único que remete a um passado sombrio e tenebroso, dos estados de exceção, fascismo e golpe já vivido.

 

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