Curitiba: Encontro marcado
Curitiba foi palco de um grande embate no último dia 10. Encontro adiado para que esse setor do Judiciário, que repetidamente tem confrontado o Estado de Direito, pudesse produzir mais fatos noticiosos para uma imprensa que lidera o processo de cerco e aniquilamento do PT, das forças progressistas e do principal símbolo construído pelo campo popular nas últimas décadas: Lula.
O encontro marcado – entre Lula e Moro – foi apenas um dos tantos encontros que aconteceram naquele dia típico de março na cidade paranaense.
O primeiro foi o do Brasil com Curitiba. Alimentou-se uma tese, desmentida pelos fatos, que Lula e “os vermelhos” seriam hostilizados na cidade da força tarefa da Lava Jato. É verdade que alguns se organizaram para isso, mas a capital recebeu de braços abertos os milhares de homens e mulheres que marcharam de todos os cantos do País.
Da Bacia do Amazonas ao Rio Grande, do Sertão Nordestino ao Pantanal, do litoral ao Cerrado. Debaixo de sol e chuva, em horas ou até dias de viagem, brasileiras e brasileiros marcharam movidos por um profundo sentimento de justiça. Se abraçaram, sorriram e choraram. E foram bem recebidos.
O segundo encontro foi o abraço simbólico desse povo em Lula. “Duvido que ele venha para praça, aqui é Curitiba”, dizia o incauto taxista. Lula foi. Se emocionou e emocionou a todos. Chorou e sorriu. Para as pessoas que atravessaram o país para abraçar o líder operário, acusado e aviltado por meses, perseguido em praça pública e exposto em toda sua vida particular aos abutres, Lula mostrou-se ainda maior.
O terceiro encontro foi da esquerda brasileira com a bandeira que a direita tenta roubar de nossas mãos: a bandeira brasileira. Somos nacionalistas. Não esse nacionalismo autoritário, que deu origem às degeneradas Alemanha nazista e da Itália fascista, mas o nacionalismo latino-americano, que liberta, que emancipa os pobres sem querer escravizar os mais pobres vizinhos, que integra o Brasil de forma soberana ao mundo e abraça a América Latina e África.
Lula, ao optar por entrar para depor com a bandeira do Brasil em punho, toma da direita mais atrasada seu símbolo impróprio mais importante, e restabelece a ordem das coisas, pois, como sabemos, eles não têm nada de nacionalistas. Essa direita defende a entrega irrestrita de nosso patrimônio e um Brasil subordinado ao imperialismo mundial. São vira-latas do Tio Sam, que, apesar de cantarem que “nossa bandeira jamais será vermelha”, adorariam vê-la com as cores dos Estados Unidos.
O quarto encontro – talvez o menos importante – foi o de Lula com Moro. Lula foi mais técnico e direto que o habitual. Lula, que é explosão de capacidade de comunicação, foi comedido. Moro, apesar de todo laboratório, piscou. E ao piscar permitiu que o líder metalúrgico se defendesse como sempre. E ainda avisasse ao magistrado que “nada teme quem fala a verdade”. Foi além: lembrou que o ódio despertado nas elites será ainda mais violento com Moro em caso de absolvição de Lula.
É verdade que Moro arrancou da boca de Lula, algumas dezenas de vezes, a frase “não sei”. E não poderia ser outra a resposta a perguntas pensadas para alimentar a edição do Jornal Nacional. À exaustão, o juiz perguntava, por exemplo, se o ex-presidente conhecia esquemas de corrupção em áreas específicas da Petrobras, ao que Lula, por óbvio, respondia desconhecer. Em lance memorável, Lula lembrou que quem deveria saber dos esquemas era o próprio juiz, que deu liberdade ao doleiro Alberto Youssef.
O quinto encontro, e um dos mais emocionantes, foi o de Lula com a estudante secundarista Ana Júlia, aquela que emocionou a todos ao confrontar os deputados paranaenses durante as históricas ocupações secundaristas em todo Brasil. Lula é passado e presente, Ana Júlia e sua geração são nosso futuro. Não estamos perdidos se soubermos nos conectar a essa moçada que nos encheu de orgulho e esperança, com sua coragem e disposição para construir o Brasil de nossos sonhos.
O encontro, carregado de símbolos e emoção, marca também a união de gerações que insistem, parafraseando Pedro Tierra, em carregar “no peito, cada um, batalhas incontáveis. Ser a perigosa memória das lutas. Projetar a perigosa imagem do sonho. Nada causa mais horror à ordem do que homens e mulheres que sonham”.
Quando os sonhos se encontram de forma tão poderosa, eles irradiam a esperança de construirmos dias melhores. E eles virão.