Chuva na roça, seca na cidade
Os números divulgados pelo IBGE na manhã desta quinta-feira reforçam o que temos apontado nesta coluna: a economia brasileira segue andando de lado. Enquanto a estimativa para a safra de grãos de 2017 aponta para um extraordinário crescimento de 26,2% (dado 1,2% superior à estimativa de março), o Comércio Varejista amarga a segunda queda seguida, com variação de -1,9% em março sobre fevereiro.
Os bons ventos que embalam a agricultura são realmente uma boa notícia nestes dias cinzentos que vivemos. Não apenas porque dão um pequeno impulso para o crescimento da demanda agregada (PIB), mas também porque ajudam a manter os preços baixos e assim evitam que o Banco Central encontre argumentos de última hora para moderar a atrasadíssima redução da taxa Selic.
Contudo, não custa lembrar que infelizmente esse esperado vigor da agricultura tem impactos reduzidos sobre os demais setores de atividade e sobre o nível geral de empregos – e esse é hoje o maior problema nacional.
Já o resultado desanimador do Comércio Varejista reflete, em grande medida, justamente aquela deterioração do mercado de trabalho e o elevado grau de endividamento das empresas e das famílias. Em linha com a tendência que tem sido registrada pelas pesquisas que medem a confiança do consumidor, mesmo com a liberação de R$ 15 bilhões do FGTS das contas inativas, os dados do IBGE apontam também uma expressiva redução do Comércio Varejista quando se observa a variação acumulada no ano (-3,0%) e ainda mais aguda quando considerada a variação dos últimos doze meses (-5,3%).
Além disso, no indicador do Comércio Varejista Ampliado (que inclui as vendas dos segmentos de veículos automotores e de materiais de construção), registraram-se quedas ainda um pouco mais agudas, tanto no comparativo sobre o mês anterior (-2,0), quanto no dos últimos doze meses (-7,1).
Noves fora, as coisas vão bem nas atividades que são menos afetados pela política econômica recessiva – mas que têm menor capacidade de alavancar o resto da economia – e permanecem ruins nas atividades mais sensíveis às condições gerais da renda e do emprego e às barbeiragens das autoridades econômicas de plantão.