Há quase três décadas, em 9 de novembro de 1989, o mundo observava surpreso e perplexo a queda do Muro de Berlim. O fim da barreira de 28 anos de idade (1961-1989) e de 155km de extensão (circundava toda a cidade), conhecida como “muro antifascita” na República Democrática Alemã (RDA) e como “muro da vergonha” na República Federal da Alemanha (RFA), promovia a união de Osis (alemães orientais) e Wesis (alemães ocidentais).

Um desencontro de informações entre o secretário-geral do Partido Comunista, Egon Krenz, e o porta-voz da Alemanha Oriental, Gunter Schabowski, levava à imprensa o anúncio de que, pela primeira vez, todos os alemães orientais passariam a ter direito a um passaporte. Depois de questionado sobre a partir de quando a nova regra entraria em vigor, o porta-voz, perdido entre papéis, confuso e hesitante respondeu: Ab sofort (imediatamente). Não demorou para que as pessoas, sozinhas ou em grupos, saíssem de suas casas em direção ao muro formando uma pequena multidão, confusos e animados eles sussurravam diante dos portões: Sofort.

Mais tarde, um novo desarranjo de instruções, dessa vez entre os ministros do partido e os guardas do posto de controle para a travessia de fronteiras, alimentava os distúrbios quando impaciente e desajeitado um dos guardas deu de ombros e ordenou: Alles auf! (abram tudo). A multidão feliz e estarrecida bradava: Die Mauer ist weck! (o muro acabou).

Por trás da queda do muro havia mudanças profundas na periferia do bloco comunista.No começo daquele ano, a Hungria de Miklós Németh, ansiosa por reformas econômicas, anunciou que não manteria mais a barreira eletrificada de segurança que se estendia pela fronteira com a Áustria, tratava-se da primeira fresta na Cortina de Ferro; na Polônia de Lech Walesa, sedenta por reformas políticas, uma aliança, ainda que suspeita, entre a situação e a oposição patrocinava as primeiras eleições livres e democráticas no interior do comunismo, tratava-se do primeiro golpe contra o autoritarismo do partido único.

Já no final daquele ano, os acontecimentos aceleravam as mudanças na Tchecoslováquia de Václav Havel com uma revolução popular; na Romênia de Nicolae Ceausescu com uma revolta palaciana; e na Bulgária de Todor Zhikov com uma associação entre forças progressistas e conservadoras. Por caminhos muito diferentes, as três movimentações colocaram um ponto final no regime vigente nesses países.

Em 1989 havia muitos indícios de que o mundo iria mudar, mas enquanto a maioria prestava atenção nas alterações do Irã com a morte do Aiatolá Khomeini ou nas permanências da China com o massacre da praça da paz celestial, apenas uma minoria atentava para os acontecimentos do Leste Europeu. Leia aqui o texto completo da resenha de 1989 – ano que mudou o mundo, livro de Michel Meyer.

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