Cerca de 170 mil pessoas passaram pela 2ª edição da Feira Nacional da Reforma Agrária, que comercializou mais de 280 toneladas de produtos vindos dos acampamentos e assentamentos de todas as regiões do país de 4 a 7 de maio, em São Paulo. Mais de 600 tipos de alimentos in natura e agroindustrializados deram uma ideia à população paulistana de como é rica e diversa a vida no campo.

Mais do que uma oportunidade para vender os produtos saudáveis e sem agrotóxicos, o evento mostrou quem são aqueles que lutam pela terra no país e do que são capazes quando a conquistam. E ainda debateu com o público urbano o conflito entre o modelo de produção agroecológico e o agronegócio.

O assentado Mario Desteti, de Campos dos Goytacazes, mora atualmente em um lote conquistado por meio da luta no MST, em Piraí, região Sul Fluminense. “Morei em baixo de lona, fiquei dez anos em acampamentos e há quatro pude conquistar minha terra, no assentamento Roseli Nunes. Eu nunca teria conseguido sem o movimento, pois era assalariado. Fui convidado a fazer parte e larguei a vida na cidade para ser agricultor”, conta.

Hoje ele faz um curso de Gestão e Cooperativismo em Agroecologia, na Universidade Federal Fluminense (UFF), e integra um coletivo de 39 famílias que produzem abacate, tangerina, banana, figo, inhame, limão, milho e feijão, tudo agroecológico. “O assentamento agora é autossustentável, estamos correndo atrás da certificação de produtor orgânico e precisamos de reconhecimento e apoio do governo. Maquinário, transporte, manutenção das estradas para escoar a nossa produção”, afirma.

A jovem Natália Pereira de Freitas Gomes, de 21 anos, praticamente nasceu no movimento pela terra e se tornou militante do MST há 13 anos. “Fui com um ano pra debaixo da lona, junto com minha mãe e meus três irmãos. Vivemos em vários acampamentos no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, e hoje sou assentada na Zona da Mata, com outras 137 famílias. “Quando uma pessoa se dispõe a viver debaixo da lona, sem luz, sem água, sem uma vida digna, quer dizer que de fato ela precisa. A conquista da terra, poder produzir e criar seus filhos, é uma conquista inigualável, é tudo”.

Ela participa de um coletivo de mulheres chamado “Ilu Okun”, que, em Iorubá, significa tambores de resistência. “A forma que encontramos para sobreviver no assentamento foi este coletivo. Fazemos tambores, bolsas, xequerê, ganzá e outros instrumentos musicais. Assumimos totalmente a marca de mulheres negras”, afirma.

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