Welinton Lourenço Romeiro, um jovem de 27 anos, motorista do Uber, é a prova que, mesmo em Curitiba, o clima começa a mudar.

Assim que entro no veículo, em direção ao acampamento onde apoiadores do ex-presidente Lula se concentram, ele dá um sorrisão e puxa papo. Começa dizendo que a cidade está enchendo de gente para apoiar o Lula, e que deveria tomar cuidado por causa de trânsito.

Todos já ouvimos histórias de motoristas mal avaliados por usuários por suas opiniões, então prefiro manter o diálogo ameno, perguntando sobre o clima para o embate na cidade. Diferente do que esperava, ele imediatamente abre o sorrisão e conta a relação afetiva que tem com o ex-presidente. “Minha mãe criou três filhos sozinha, sempre me disse que antes do Lula não sobrava dinheiro para nada. Hoje ela tem a casinha dela, com o “Programa Minha Casa Minha Vida”, sem isso ela não teria onde morar até hoje”.

Pergunto se isso era algo apenas dele e da família ou era um sentimento dos amigos mais próximos também. Welinton me conta que muitos da sua relação estão desempregados, e enxergam no ex-presidente a lembrança de dias melhores. “Uber não é minha profissão, estou desempregado, muitos amigos meus estão também, tá faltando emprego pra todo mundo e esse governo, ao invés de ajudar, quer piorar tudo mexendo na nossa aposentadoria. Pensa comigo: se trabalhando já ia ser difícil aposentar, imagina desempregado”.

Em Curitiba, assim como na maioria das grandes cidades das regiões Sul e Sudeste, discordar das histórias contadas pela grande imprensa parecia um crime há alguns meses, mas não é o clima de hoje. O jovem motorista conta que no seu meio pouca gente protestou contra ou a favor do impeachment da presidenta Dilma, alguns acreditaram de verdade que o Brasil poderia melhorar, mas não é mais a impressão deles. “Tá todo mundo desanimado”.

Sobre a expectativa em relação as manifestações de rua e o embate jurídico, Welinton demonstra simpatia pelo juiz Sérgio Moro, mas afirma que contra Lula ainda não encontraram nada. “Quero ver onde tá escondido o dinheiro que falam que é de Lula, porque essa história de sítio e casa na praia não me convence. O Moro tá fazendo um bom trabalho, mas tá errando com Lula. Lula abriu sim os cofres, mas foi pro povo pobre do Brasil, se eu não estiver trabalhando na hora vou lá apoiar a manifestação também”.

Chegamos ao destino e com aquele sorrisão no rosto Welinton me deseja boa sorte e bom trabalho, para se despedir e dizer que torcia para me encontrar mais tarde. Caminho com a sensação de que a chamada “República de Curitiba”, apelido que tanto orgulha os apoiadores de Moro, não se deu conta que mesmo na fria Curitiba o clima começa a mudar.

`