A taxa de desemprego nos Estados Unidos registrou a marca de 4,4% no mês de abril, a mais baixa dos últimos dez anos. Foram 211 mil trabalhadores adicionais, grande parte deles em atividades que pagam salários mais baixos.

Passados já quase quatro meses de governo Trump, o que se percebe é que o crescimento dos postos de trabalho nos Estados Unidos segue em ritmo similar ao que vinha sendo registrado no último ano do governo Obama, com uma média de 185 mil novos postos de trabalho por mês. Como a administração Trump sinaliza com algumas medidas voltadas a aquecer o mercado interno (aumento de tarifas alfandegárias, redução de impostos e gastos em infraestrutura) é razoável supor que, caso essa recuperação do emprego nos Estados Unidos se mantenha, o FED (Banco Central estadunidense) deverá mesmo intensificar o ritmo de elevação da taxa de juros básica daquele país.

E nós com isso?
A se confirmar essa perspectiva, o Brasil será afetado por distintas frentes.

Por um lado, na medida em que sobem os juros nos Estados Unidos, tende a ocorrer uma valorização do dólar, isto é, uma desvalorização do real, que deverá ajudar o setor exportador brasileiro, dando algum fôlego a setores da manufatura brasileira que estão agonizando e que dependem mais fortemente de uma taxa de câmbio competitiva.

Por outro lado, como alertou recentemente o famoso economista Barry Eichengreen, da Universidade de Berkley, essa mesma valorização cambial poderá trazer problemas para determinados setores da economia brasileira, visto que no período recente muitas empresas nacionais se aproveitaram do real valorizado para tomar crédito no exterior. Com volumosos passivos em dólar e frente a um quadro de estagnação da economia nacional, esse conjunto de empresas – especialmente aquelas que não vendem para o mercado externo – poderá ver deteriorar sua saúde financeira. Os lucros serão insuficientes para cobrir o aumento dos encargos financeiros.

Além disso, outro risco que um eventual aumento da taxa de juros norte-americana poderá trazer ao país será frear a queda da taxa Selic que a duras penas tem sido feita pelo Banco Central brasileiro. A depender do quão excessivamente zeloso o Sr. Ilan e seus amigos banqueiros resolvam ser, podem querer diminuir a velocidade da queda, alegando que por conta da subida nos EUA, corre-se o risco de diminuir em demasia o spread (diferencial entre as duas taxas), o que poderia resultar em um processo de saída de dólar por demais acelerado.

A resultante final de todos estes efeitos, evidentemente, dependerá do desenvolvimento dos fatos e de como o rentismo brasileiro – que está no comando dos destinos do país –  pretende manejar os pauzinhos do Banco Central. Não será surpresa se abortarem a necessária aceleração da queda da taxa de juros para evitar uma desvalorização mais aguda do real.

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