Uma caixa de fósforos com cabeças azuis
Uma caixa de fósforos com cabeças azuis. O que fazer a respeito? Em “Paterson”, Jim Jarmusch, diretor consagrado por seus filmes originais e um tanto estranhos (Daunbailó; Estranhos no Paraíso; Uma noite sobre a terra; Flores partidas, entre outros), prefere não acendê-los. Prefere perseguir o vazio e a mesmice da vida de um pacato motorista de ônibus em uma pacata cidade de New Jersey (EUA).
Mas o vazio de Paterson (ao mesmo tempo nome da cidade, do protagonista e da linha de ônibus), assim como os fósforos de cabeças azuis, são as pistas plantadas pelo diretor para nos contar a respeito do frenesi que nos embota a vida quando estamos longe de Paterson.
O filme percorre obediente por um cotidiano monótono. Tudo começa na segunda-feira, segue pela terça, depois vem a quarta, até que finalmente nos encontramos mais uma vez numa segunda-feira. O protagonista (interpretado por Adam Driver), um jovem casado com uma bela e alegre mulher (Golshifteh Farahani), vai de casa para a garagem de ônibus, da garagem para o bar, do bar para a casa. Em suas esperas frequentes, arrisca-se a escrever poemas num caderninho que carrega no bolso.
Entre uma cena e outra, personagens e situações singulares nos induzem a esperar por desfechos. Mas o filme não os entrega. Seu fiel compromisso com a banalidade dos dias ordinários apenas escancara o quanto cada um de nós está irremediavelmente obcecado por razões e nexos.
Paterson não tem celular, não usa email, nem espia no facebook. Escreve sobre fósforos perfilados numa caixinha que nos grita sobre coisas que já não podemos ouvir.
FICHA TÉCNICA:
TÍTULO: Paterson
ANO DA PRODUÇÃO: 2016
DIREÇÃO: Jim Jarmusch
PAÍS DE ORIGEM: EUA