Os atos de 1º de Maio tornaram-se manifestações de repúdio ao governo Temer, com mais intensidade no protesto convocado pela CUT, CTB e Intersindical em São Paulo, com presença das frentes Brasil Popular e Povo sem Medo. Mesmo com dificuldades com o poder público municipal, os organizadores estimaram em 200 mil o número de participantes, entre a Avenida Paulista, onde o ato começou, e a Rua da Consolação, por onde seguiu uma passeata no final da tarde até chegar à Praça da República, na região central, palco de apresentações musicais, que prosseguiram até a noite.

Sindicalistas e ativistas responderam ao governo Temer, que teve alguns porta-vozes falando em “fracasso” da Greve Geral da última sexta-feira. “Fracasso é o seu Temer, é o golpe que ele deu e já está indo por água abaixo”, reagiu o coordenador da Frente Povo Sem Medo e do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos. “Com mais de 90% de rejeição, (o governo) quer aprovar reformas infames.”

Durante a manifestação, ele afirmou que a greve de sexta tem três presos políticos, acusados de agir contra a ordem pública. “Foram presos com acusações absurdas, sem nenhuma prova. Ordem pública é o povo com casa, é trabalhador com direito. Nós é que defendemos ordem pública”, disse Boulos. Em referência a uma das acusações contra os militantes – provocar incêndio –, ele respondeu: “Se acham que vão nos intimidar, estão enganados. Agora é que vão ver o que é incêndio”.

A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, condenou a violência policial e citou a agressão ao estudante ante Mateus Ferreira da Silva, da Universidade Federal de Goiás (UFG), integrante do Centro Acadêmico, sexta-feira, em Goiânia. “Ele foi barbaramente espancado e gravemente ferido”, lembrou Carina. “Nós lutamos pelo futuro do Mateus e pelo direito de lutar.” E a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Juvandia Moreira, destacou, além desses dois episódios, a invasão ocorrida à sede da entidade, na noite de sexta.

Defensor do impeachment de Dilma Rousseff, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força Sindical e do Solidariedade, também falou em novas paralisações contra as reformas. “Se o governo não entendeu, vai ter mais”, afirmou durante a festa da central, na praça Campo de Bagatelle, zona norte da capital paulista. O ato da CSB, no Sambódromo, também na região norte, teve mais críticas ao presidente Temer. “Essa reforma trabalhista vai acabar com os direitos históricos dos trabalhadores, com a Justiça do Trabalho e com o Ministério Público”, disse o presidente da central, Antonio Neto. A entidade estimou em 50 mil o número de presentes. Já a Força falou em 700 mil.

O ato de CUT, CTB e Intersindical ocorreu em clima tranquilo, mas teve alguns incidentes. Pela manhã, os sindicalistas não puderam estacionar o carro de som diante do vão livre do Masp, como previsto. Tiveram de parar alguns quarteirões adiante, na esquina da Paulista com a Rua Haddock Lobo, perto de um prédio residencial, o que provocou reclamações dos moradores. “Eu disse ao síndico que isso é culpa do Doria (o prefeito João Doria, do PSDB), não é culpa nossa”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas. Durante a manifestação, o prefeito foi várias vezes “lembrado” nos discursos.

Outro incidente ocorreu já na passeata pela Rua da Consolação, após os manifestantes deixarem a Paulista, rumo à Praça da República. No início do percurso, a Polícia Militar impediu o acesso de um caminhão de som. Sindicalistas tentaram negociar, chegaram a anunciar um acordo, mas depois informaram que a PM “confiscou” as chaves do veículo, que permaneceu parado, enquanto a marcha continuou. Mais adiante, uma senhora em um prédio provocou manifestantes com um “pixuleco” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e foi vaiada. Por outro lado, crianças em uma ocupação gritavam “queremos moradia” e “Fora Temer”.
Mídia

Vagner destacou a importância do movimento de sexta-feira contra as reformas e o papel da imprensa. “A Greve Geral foi pauta no mundo inteiro, em toda a mídia mundial E a mídia golpista escondeu. Precisamos imediatamente voltar a ter democracia no Brasil e fazer o marco regulatório dos meios de comunicação. Acho que a Greve Geral foi a gota d´água.”

Segundo ele, a paralisação mostrou apoio popular e reprovação da sociedade contra as “reformas” da Previdência e trabalhista. “Estamos na ofensiva e temos de continuar. Vamos ocupar Brasília integralmente e não permitir que haja votação de retirada de direitos.” Na próxima quinta-feira, representantes de todas as centrais e de movimentos sociais vão se reunir para discutir os próximos passos. Mas amanhã uma comitiva de sindicalistas vai a Brasília conversar com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e com a bancada do partido, para articular a resistência na Casa, para onde seguiu o substitutivo de mudança da legislação trabalhista.

Os discursos também defenderam a antecipação das eleições gerais de 2018 para este ano. “Nada funciona no Brasil porque não há credibilidade”, disse o presidente da CUT.

O vice do PCdoB, Walter Sorretino, propôs a formação de uma “grande frente ampla para defender a democracia”. “Esse governo usurpador colocou o país num grande impasse”, afirmou. “Além de retirar direitos, o governo golpista vem aumento a repressão contra os movimentos sociais”, acrescentou o presidente nacional do PT, Rui Falcão, também a favor a antecipação das eleições. “Em vez da PEC da Previdência, queremos a PEC das diretas.” Também usaram o palco representantes do Psol, PCO e PCR. Entre os políticos presentes, estavam os deputados federais Arlindo Chinaglia, Carlos Zarattini (ambos do PT-SP) e Ivan Valente (Psol-SP), além do vereador paulistano e ex-senador Eduardo Suplicy (PT).

Já na República, os shows começaram com a apresentação do grupo As Bahias e A Cozinha Mineira. “Todos juntos contra a reforma da Previdência”, afirmaram, também com homenagens ao cantor e compositor Belchior, que morreu neste final de semana. Depois iriam se apresentar Leci Brandão, MC Guimê e Emicida.