O terceiro debate do ciclo que aprofunda as discussões sobre a pesquisa Percepções e valores políticos nas periferias de São Paulo (clique aqui e conheça o estudo) foi realizado no dia 25 de abril, na sede da Fundação Perseu Abramo (FPA).

O encontro, coordenado pelo presidente da FPA, Marcio Pochmann, teve as presenças do professor da Unicamp Sávio Cavalcante, da professora da USP Marilena Chaui, e do fundador e professor do Movimento UneAfro-Brasil Douglas Belchior.

Belchior falou sobre sua experiência pessoal na periferia de São Paulo e relatou que “periferia é periferia em qualquer lugar. Não sei se hoje a periferia é tão diferente do que foi no passado, e direitos como saúde e educação sempre foram ruins, apesar da melhoria no consumo nos últimos anos”. Para ele, “houve momentos que esse setor, pela proximidade com a presença da esquerda, lutaram por sua necessidades”. Mas constata que há um empobrecimento da organização e da participação. E defende que é preciso reagir a partir das organizações atuais das periferias, como os saraus culturais, os cursinhos para carentes e demais ações locais. “É preciso olhar par o que já fizemos, mas dar mais espaço ao que está surgindo”, alertou.

Para Cavalcante, a pesquisa da FPA precisa contrastar com as demais já feitas em relação à classe média. “Há muitas variedades de interpretação da pesquisa, mas a ideologia do trabalho é a todo tempo testada: as dificuldades de chegar ao local de trabalho, de ser reconhecido por suas habilidades. O que nos faz voltar à temática do mérito”.

O retorno do neoliberalismo, por meio das propostas do governo golpista, como a lei que permite a terceirização e as reformas Trabalhista e da Previdência, fortalecem a disputa política e ideológica. “Desvincular o trabalhador da empresa, cada trabalhador sendo ele próprio uma ‘empresa'” são dados que o professor analisa com preocupação: “que projeto vamos oferecer?”, indagou.

Marilena Chaui fez sua apresentação relembrando a situação brasileira de décadas passadas, um “ambiente histórico de profunda transformação e esperança, com o surgimento das centrais sindicais e partidos políticos, as comunidades eclesiais de base, a luta pela democracia e a conquista de direitos”.

Quando foi secretária da Cultura, na prefeitura então comandada por Luiza Erundina, Chaui construiu “a luta contra a cisão entre o centro e a periferia, porque havia uma grande parcela da população excluída da materialidade de direitos”.

A professora defendeu que muitos estudos sobre a economia já foram feitos, citando o próprio Marcio Pochmann, Jessé de Souza, Francisco de Oliveira e até Michel Foucault (ainda nos anos 1970), “mas faltam análises políticas do neoliberalismo, que é a desmantelação dos direitos e do republicanismo”.

Marilena explicou que o neoliberalismo faz com que o mercado apareça como realização. “A ideologia do mérito é reforçada como única saída”, disse, lembrando a “culpabilidade da classe trabalhadora, que precisa o tempo todo provar seus méritos. “Há quatro séculos colocam isso na cabeça das pessoas e o neoliberalismo hoje reforça essa ideia”.

O próximo debate sobre os desdobramentos da pesquisa a partir dos aspectos religiosos será no dia 8 de maio, com Daniel Souza, Ronaldo Almeida e Regina Novaes, a partir das 18 horas.

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