Na tarde do dia 18 de abril, na sede da Fundação Perseu Abramo, aconteceu o segundo debate do Ciclo que aprofunda as discussões sobre a mais recente pesquisa da FPA, “Percepções e valores políticos nas periferias de São Paulo” (clique aqui e conheça o estudo). Com transmissão ao vivo pela internet e participação de internautas, o debate teve a mediação do presidente da FPA, Marcio Pochmann. Os pesquisadores que aceitaram o convite da Fundação – Giovanni Alves, da Unesp de Marília, Andréia Galvão, da Unicamp, e Sérgio Fausto, da USP – refletiram sobre os resultados da pesquisa.

Andréia Galvão comentou aspectos relacionados à metodologia da pesquisa e resaltou a importância de conhecer as periferias e seu desenvolvimento no último período. “Precisamos aperfeiçoar as perguntas, porque nem sempre encontramos a melhor forma de indagar sobre o que queremos investigar”.

Ela não acredita que com os resultados seja possível afirmar que a periferia não entende a luta de classes ou que o Estado seja o inimigo. “Não há perguntas sobre solidariedade no trabalho e relação com o patrão. Greve é um instrumento legítimo?, Isenção de impostos das grandes fortunas”, seriam questões importantes de serem feitas.

Mas as visões de mundo são contraditórias e “a ideologia dominante afeta os dominados, mas ela é trabalhada e resignificada”, afirmou.

A ideologia meritocrática, empreendedorismo, consumo e as transformações na sociedade como um todo foram outros pontos que Andréia também abordou.

Sérgio Fausto considerou interessante a proposta de compartilhar mais amplamente os resultados da pesquisa. Ele acredita que “a pesquisa têm limitações, mas oferece material para reflexão muito interessante”.

“Temos que ser modestos porque em vários planos estamos vivendo processos em aberto. Não houve uma decantação. Não é razoável acreditar que o eleitorado tivesse sido de esquerda, o Brasil é mais complexo. Assim como classe média é visto equivocadamente porque é uma classe em trânsito”, disse.

Ele lembrou que os momentos anteriores, como os resultados do Plano Real e as políticas de inclusão e desenvolvimento econômico dos governos Lula, foram processos de mudança de grupos sociais no país que não foram finalizados.

Fausto ainda falou sobre a importância da família, as mudanças no campo religoso e as suas redes de solidariedade, a aspiração pelo empreendedorismo que convive com a valorização da carteira assinada.

Para Fausto, devemos resistir à tentação de caracterizar esse fenômeno. “Sabemos que está acontecendo uma mudança que não é só no Brasil, com as sociedades menos heterogêneas mas isso não quer dizer que o conflito distributivo acabou”. E para ele, as futuras mudanças no mundo trabalho, com a excessiva substituição dos homens pelas máquinas, irá afetar as ideologias também.

O momento político do Brasil hoje também afeta a “paisagem da pesquisa”, para Sérgio, as transformações são globais, nacionais e locais. Estamos no meio do sacolejo, neste momento temos que discutir que transformações são essas”.

Giovanni Alves considera a pesquisa bastante oportuna e interessante porque “provoca para enxegarmos as o profundo processo de mutações da nossa sociedade. Temos que identificar que país é este”, alertando que hoje a pesquisa mostra um Brasil que está “num desmonte”.

Alves utiliza o documentário de Geraldo Sarno, “Viramundo”, para comparar temas nos anos 1960 e agora. A condição do migrante, as mudanças no sistema produtivo mas as periferias continuam as mesmas.

Estão previstos mais dois debates do ciclo no dia 25 de abril e 8 de maio, com presenças já confirmadas de Marilena Chaui, Daniel Souza e Douglas Melchior entre outros. Assista a íntegra do debate no Facebook e Youtube da Fundação Perseu Abramo.

Fotos: Felipe Kfouri

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