Dados da Pesquisa Nacional de Aborto 2016, publicados pelos pesquisadores Debora Diniz, Marcelo Medeiros e Alberto Madeiro, estimam a magnitude dessa prática no Brasil. A pesquisa havia sido realizada também em 2010.

A pesquisa indica que em 2016, uma em cada 5,4 mulheres brasileiras aos 40 anos já realizou pelo menos um aborto. Em 2015, aproximadamente 416 mil mulheres abortaram.

Apontam os autores que, ao contrário dos estereótipos, “a mulher que aborta é uma mulher comum”, isto é, o aborto foi realizado por mulheres:

a) de todas as idades (ou seja, permanece como um evento frequente na vida reprodutiva de mulheres há muitas décadas);
b) casadas ou não;
c) que são mães hoje;
d) de todas as religiões, inclusive as sem religião;
e) de todos os níveis educacionais;
f) trabalhadoras ou não;
g) de todas as classes sociais;
h) de todos os grupos raciais;
i) em todas as regiões do país;
j) em todos os tipos e tamanhos de município.

Há, no entanto, heterogeneidade dentro dos grupos sociais com maior frequência do aborto entre mulheres de menor escolaridade, pretas, pardas e indígenas, vivendo nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Ressalvadas algumas variações, esse é um padrão semelhante ao observado em 2010. E também, metade das mulheres (48%) utilizou medicamentos para abortar e quase a metade das mulheres (48%) precisou ficar internada para finalizar o aborto.

Segundo os autores, o aborto pode estar associado a um evento reprodutivo individual, mas está enraizado na vida reprodutiva das mulheres e responde à forma como a sociedade brasileira se organiza para a reprodução biológica e social.

A comparação entre 2010 e 2016 indica que a internação vem diminuindo, o que sugere que, apesar da ilegalidade e da repressão, as mulheres usam cada vez mais métodos com maior segurança para abortar.

 

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