A Revolução Ignorada, da editora Autonomia Literária, é uma composição de textos de diversos anarquistas europeus, ativistas curdos e apoiadores da causa da independência do Curdistão, incluindo o Comitê de Solidariedade à Resistência Curda, de São Paulo. Eles resgatam a história da resistência do povo curdo e sua luta pela autonomia no atual quadro de conflitos no Oriente Médio. Estes também envolvem as áreas de maioria curda, bem como o projeto de emancipação radical no que tange à igualdade de oportunidades entre homens e mulheres e à democracia direta na região de Rojava, onde os curdos hoje governam.

O livro traz muitas informações importantes sobre a questão curda, um tema pouco conhecido no Brasil. A etnia, composta por aproximadamente vinte milhões de pessoas, se espalha no Oriente Médio em territórios da Turquia, Iraque, Síria e Irã. Quando o Império Otomano foi derrotado, na Primeira Guerra Mundial, e teve o território que ocupava no Oriente Médio esfacelado, a Inglaterra e a França haviam prometido aos curdos que teriam direito à independência de seu território. Ambos os traíram e também o esfacelaram entre o que restou da Turquia e o território levantino, que dividiram entre si. Iraque para a Inglaterra, Síria para a França e o Irã, independente, embora sob forte influência inglesa.

Os curdos, ao lado dos palestinos e saharauís, são mais um povo ao qual é negado seu legítimo direito à independência. Os curdos, etnia minoritária nos quatro países, foram rotineiramente reprimidos desde então, a ponto de terem seu idioma proibido e desenvolveram várias formas de luta pela sua independência, inclusive a luta armada conduzida pelo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

Após a prisão de seu líder, Abdullah Öcalan, em 1999, o PKK deixou de ser uma guerrilha marxista – leninista e desenvolveu uma nova tese de luta política por intermédio do Confederalismo Democrático. Este foi formulado por Öcalan, na prisão, e é aplicado na prática em Rojava, que é o Curdistão sírio, onde vivem cerca de três milhões de curdos e outras etnias minoritárias que combatem o Estado Islâmico e que se livraram do controle autárquico do governo sírio.

A igualdade de gênero, inclusive com a formação de uma brigada militar composta somente por mulheres, a participação das minorias não-curdas e a democracia direta fazem parte do conceito de “Confederalismo Democrático”. Vale a pena conhecer a causa curda e o que acontece no Curdistão hoje e, principalmente, apoiar seu legítimo direito à liberdade e autonomia.

Livro: A Revolução Ignorada, vários aurores

Editora: Autonomia Literária

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