Ano 5 – nº 406 – 27 de março de 2017

Para saber mais:NOTA ABRASCO ‘Para enfrentar a obesidade é necessário fazer muito mais que descascar alimentos in natura’
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­Abrasco: Nota sobre obesidade infantil

Após a fala do ministro da saúde, Ricardo Barros, de que a obesidade infantil ocorre porque as crianças “desembalam” e não “descascam” alimentos” com suas mães, que “não ficam em casa, e as crianças não têm oportunidade, como tinham antigamente, de acompanhar a mãe nas tarefas diárias de preparação dos alimentos”, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) lançou uma nota sobre a declaração do ministro.

A nota afirma que a abordagem que transfere a responsabilidade do atual cenário para as famílias não quer enfrentar os determinantes estruturais da obesidade, tais como:

  • O sistema alimentar hegemônico baseia-se em processos produtivos insustentáveis (do ponto de vistas ambiental, social e econômico) e no uso intensivo de agrotóxicos, além de concentrar fluxos produtivos e comerciais em grandes corporações transnacionais, como as de insumos e sementes, as indústrias de alimentos e as mega redes varejistas. Um sistema com tais características favorece o consumo de alimentos ultraprocessados (como refrigerantes, biscoitos recheados, macarrão instantâneo) e dificulta o acesso (em termos de oferta e de preço) a alimentos in natura ou minimamente processados;
  • Diversos estudos demonstram que a autonomia dos indivíduos em relação a escolhas alimentares é relativa: os ambientes alimentares favorecem a obesidade, com as opções para escolha em cantinas, supermercados, lojas de conveniência etc, os rótulos dos alimentos ultraprocessados, que não informam claramente as características do produto, induzem sua compra via artifícios de marketing. Merece destaque a publicidade dirigida ao público infantil e a publicidade de alimentos com altos teores de gordura, açúcar e sal e o caso de brindes (geralmente brinquedos) associados a alimentos;
  • As condições de insegurança frente à violência, a mobilidade urbana deficiente e a carência de espaços públicos adequados e seguros para a prática cotidiana de atividade física nas cidades;
  • Em geral escolas e livros escolares ainda abordam a alimentação do ponto de vista estritamente biológico, que reduz a compreensão do alimento à sua composição nutricional;
  • A entrada da mulher no mercado de trabalho não foi acompanhada de uma redefinição das responsabilidades em relação aos afazeres domésticos. Não é a presença legítima da mulher no mercado de trabalho ou em qualquer outro espaço social que levou à piora da alimentação das famílias, mas a concentração da responsabilidade do cuidado das famílias e das crianças sobre a mulher que continua gerando duplas e até triplas jornadas de trabalho.

Além desses fatores, há ainda aqueles cujos mecanismos precisam ser mais bem elucidados, como é o caso da atuação de agrotóxicos e de antibióticos presentes nos alimentos em relação à obesidade.

* As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade de sua autora, não representando necessariamente a visão da FPA ou de seus dirigentes.

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