Ano 2 – nº 44 – 08 de março de 2017

No dia 08 de março as mulheres do Brasil vão às ruas contra as reformas do governo golpista

Hoje, no dia 08 de março, as mulheres do Brasil se unem e vão às ruas se manifestar por todo país em torno de diversas pautas: o feminicídio, a cultura do estupro, a criminalização do aborto, a violência doméstica contra a mulher, a diferença salarial entre homens e mulheres, a dupla jornada de trabalhos, entre outras violências que atingem as mulheres.

Segundo a ONU, a taxa de feminicídio no Brasil é de 4,8 para 100 mil mulheres – a quinta maior no mundo e a cada 90 minutos uma mulher é morta. Segundo a Organização Mundial da Saúde mais de 1 milhão de mulheres no país se submetem a abortos clandestinos anualmente e a cada 2 dias uma mulher morre vítima desse procedimento.

A cada 12 minutos uma mulher é estuprada. São mais de 45 mil por ano. Esses dados estão subnotificados, uma vez que só estão considerados os casos registrados em boletins de ocorrência. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha e Fórum Brasileiro de Segurança Pública, de setembro de 2016, mais de um terço da população brasileira (33%) consideram que a vítima é culpada pelo estupro.

A pesquisa Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e Privado, da Fundação Perseu Abramo, publicada em 2010, revela que uma em cada cinco mulheres já sofreram “algum tipo de violência de parte de algum homem, o que significa que a cada 12 segundos uma mulher sofre violência. De janeiro a dezembro do ano passado, segundo Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR), o Brasil registrou, 63.090 denúncias de violência contra a mulher – o que corresponde a um relato a cada 7 minutos.

A situação no mercado de trabalho, é igualmente violenta para a mulher brasileira. O estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgado no dia 06 de março deste ano pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que as brasileiras trabalham em média 7,5 horas a mais que os homens por semana, ainda que estudem mais. Os homens trabalham cerca de 46 horas semanais e as mulheres mais de 54 horas, devido à dupla jornada. Mais de 90% das mulheres declararam realizar atividades domésticas, enquanto entre os homens apenas 50% tem essa atribuição.

Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a remuneração das mulheres é cerca de 30% inferior à dos homens na mesma função; ocupam funções mais precárias; possuem mais dificuldade em encontrar emprego, são mais afetadas pelo desemprego, a taxa de desocupação feminina, segundo o estudo do IPEA, é de 11,6%, enquanto a dos homens chegou a 7,8%, ainda que não sejam as principais vítimas de assédio moral e sexual no ambiente de trabalho.

A PEC 55, que congela os gastos públicos por vinte anos, aprovada em dezembro do ano passado, afeta diretamente as mulheres. O congelamento agrava o provimento de creches e a qualidade do ensino público, o que incide na dupla jornada de trabalho da mulher, principais responsáveis pelos cuidados como os filhos.

A Reforma da Previdência, proposta pelo governo e em debate na comissão especial da Câmara dos Deputados, apresenta efeitos extremamente danosos a todos, mas tende a afetar principalmente as mulheres. Hoje, as mulheres se aposentam com idade mínima e tempo de contribuição 5 anos menores do que o dos homens. Na Reforma da Previdência de Michel Temer, a idade e o tempo de contribuição serão equiparados e o critério passa a ser 65 anos de idade para ambos. A reforma da previdência afeta ainda mais gravemente as trabalhadoras rurais. No campo os trabalhadores se aposentam aos 60 anos e as trabalhadoras aos 55, se a reforma passar as trabalhadoras rurais terão que trabalhar dez anos a mais.

No Brasil, o ano de 2016 foi um marco na ruptura com as estruturas institucionais e o desmonte de programas que garantiam a proteção de direitos previamente conquistados. A retirada de Dilma do governo, primeira presidenta mulher legitimamente eleita pelo voto de mais de 54 milhões de brasileiros, a formação de um ministério composto exclusivamente por homens e a extinção do Ministério das Mulheres, da Igualdade Social, Juventude e Direitos Humanos, demonstram o quanto esse governo não reconhece a desigualdade de gênero, a luta pelo reconhecimento dos direitos das mulheres e não se preocupa com essa população.

* As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade de seu autor, não representando necessariamente a visão da FPA ou de seus dirigentes.
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