Ano 2 – nº 11 – Janeiro/Fevereiro 2017

Alexandre de Moraes nas redes

Durante o monitoramento realizado de 6 a 12/2, durante os primeiros dias da indicação de Alexandre de Moraes para o STF, foi coletada, no Twitter, uma amostra de 57.748 ocorrências, a fim de analisar o cenário. No grafo, nota-se, nitidamente, a presença de dois agrupamentos diferentes: o cluster laranja, marcado por uma atmosfera mais progressista e de esquerda, e o cluster azul, marcado por um sentimento “anti-PT”. No entanto, ambos os clusters atuaram em conjunto na segunda-feira, 6/2, ao atacarem a indicação de Alexandre de Moraes para o STF. Aqui, apenas o perfil o_antagonista não atacou a indicação nem se posicionou.

Boletim de Análise de Conjuntura - Comunicação

Entretanto, os ataques seguem duas linhas diferentes: enquanto o agrupamento azul opta por ataques que cobram uma indicação apartidária e criticam Alexandre de Moraes utilizando sua própria tese de doutorado, na qual ele defende que membros do governo não poderiam ser indicados para o STF, o cluster laranja opta por ataques que liguem Alexandre de Moraes ao PSDB, ao PCC e às tentativas de estancar a Lava Jato no STF, conforme áudio de Romero Jucá divulgado meses atrás. Aqui, páginas como o Sensacionalista e Buzzfeed atuaram muito bem em uma espécie de “diálogo” entre os dois agrupamentos, divulgando notícias e reportagens sobre os temas de ambos os clusters.

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Chama a atenção, também, a total ausência de posicionamento do movimento MBL no Twitter. Enquanto isso, outros movimentos, como o Vem Pra Rua, se posicionaram fortemente contra a indicação de Alexandre de Moraes. O MBL, por sua vez, posicionou-se a favor no Facebook, com vídeos ao vivo explicando o apoio à indicação efetuada por Michel Temer.

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Os picos de citações no decorrer do dia da indicação de Alexandre de Moraes (6/2) ocorreram em dois momentos: entre as 12h e 14h, quando da divulgação do nome, e posteriormente, entre 18h e 20h, quando diversos ataques começaram a ser feitos contra o ministro.

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É interessante observar que o tema, mesmo que de abrangência nacional e com forte impacto no cenário político brasileiro, se manteve em alta apenas entre os dias 6 e 7/2, quando passou a cair drasticamente com relação às ocorrências abordando o nome de Moraes.

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Facebook

No Facebook foram coletados 9.627 comentários sobre o tema, produzidos por 7.453 usuários em treze publicações distintas – Carta Capital, Alexandre de Moraes, Época, BBC, Folha (duas vezes), R7, O Globo (duas vezes), Exame, Vem Pra Rua, Terra e MBL. Os principais usuários a fomentar o debate no Facebook nas páginas monitoradas foram:

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Assim como no Twitter, os picos de ocorrências no Facebook ocorreram de acordo com a divulgação do nome de Alexandre de Moraes (1º pico) e ataques à sua indicação (2º pico).

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Entre os comentários do Facebook, é possível observar algumas vertentes de comentários acerca da indicação.

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• Críticas aos paneleiros pela situação na qual o Brasil se encontra.
• Questionamentos sobre “tirar Dilma e o PT foi o suficiente? ”
• A ligação de Alexandre de Moraes com o PCC vem sendo muito explorada – até mesmo de forma a inundar as páginas – pelos agrupamentos e usuários de esquerda.
• A filiação de Alexandre de Moraes ao PSDB também é muito citada para questionar a indicação. O fim da Operação Lava Jato é o principal medo de usuários de direita/conservadores/anti-PT. Uma das notícias mais compartilhadas durante o período ressalta que ele será sabatinado por dez senadores investigados na operação.
• Muitos usuários cobram um posicionamento do MBL contra a indicação. O movimento já se manifestou a favor no Facebook.

Mídia impressa

A capa da revista Exame de 1º/2, edição 1130, anunciou “que o pior já passou” e trouxe a análise de que com inflação e juros em queda, finalmente a recessão chegou ao fim. Também o diário O Estado de S.Paulo afirmou em seu editorial “Finalmente, um país com rumo”, publicado em 7/2: “O Brasil tem rumo, o governo tem uma agenda e pela primeira vez em muito tempo as políticas fiscal e monetária combinam. Graças a isso, tem sido possível apostar no recuo da inflação e, com segurança, baixar os juros básicos. Há ainda muitos problemas pela frente, mas a sensação de estar num trem desgovernado passou.” Em sua edição de 13/2, o Valor Econômico publicou texto de opinião com avaliação semelhante. “Dados parecem indicar que o pior ficou para trás. São inegáveis os sinais de mudança de humor na economia. Os dados disponíveis, embora ainda incipientes, parecem indicar que o pior da crise econômica ficou para trás. Há indicadores que alimentam a esperança de que a retomada do crescimento já teve início ou está próxima de acontecer.”

Já o noticiário político traz como principais polêmicas a nomeação do ministro Moreira Franco para Secretaria Geral da Presidência e a indicação de Alexandre de Moraes ao STF, decisões que motivaram os grandes jornais a um posicionamento crítico ao governo Temer. O Estadão publicou em seu editorial, no dia 10/2, tratar-se de um grave erro. “O imbróglio jurídico envolvendo a nomeação de Moreira Franco como ministro da Secretaria-Geral da Presidência – até ontem, eram duas liminares suspendendo o ato presidencial – é apenas parte do problema, e nem é a principal. A ascensão do amigo a um cargo com foro privilegiado foi um erro não trivial de Michel Temer, voltando a expor de forma acintosa as graves fragilidades do primeiro escalão do governo.”

A Folha de S.Paulo declarou guerra à indicação de Alexandre de Moraes. Na editoria Poder, várias matérias publicadas com a chamada “Morte à Lava Jato”, entre elas a que noticia que o ministro pagou diárias de policiais que atuaram na Olimpíada sem autorização e a que denuncia suposto plágio identificado na sua obra, que ”contém trechos idênticos ao de uma obra do jurista espanhol Francisco Rubio Llorente”. Com o título “Sem limite”, a Folha publicou, no dia 10/2: “Acumulam-se, nestes últimos dias, os sinais de que o governo do peemedebista Michel Temer —a exemplo do mundo político em geral— deixa de lado o compromisso com as aparências republicanas e adota como prioridade a sobrevivência de seu núcleo de poder. Em manobra incapaz de passar como mera providência administrativa, o presidente alçou a ministro de seu governo Wellington Moreira Franco, identificado como “Angorá” em delações da Lava Jato. O correligionário, sobre o qual não pesa denúncia formal, garantiu o foro privilegiado.”

Violência na pauta internacional

A violência no Brasil certamente foi o tema mais tratado pela imprensa estrangeira nesse período. Além da simples reprodução dos fatos feita por agências de notícias, alguns jornais como New York Times e Le Monde publicaram reportagens especiais sobre as mortes terríveis produzidas pelas facções que dominam os presídios brasileiros. Esses veículos sempre se referem ao Brasil como um país em profunda recessão econômica e a violência é apontada como mais um fator deteriorante que completa este quadro agravado pela crise financeira dos estados.

Em 31 de janeiro, o periódico francês Le Monde relatou a situação dos estados, questionando se o plano proposto pelo governo federal iria fazer do Rio de Janeiro um exemplo ou uma cobaia. A reportagem ainda alega que existe uma divisão entre os economistas sobre qual é a melhor saída para a situação. É interessante que a imprensa estrangeira seja capaz de demonstrar que existem outras soluções propostas, ao passo que o jornalismo da grande imprensa brasileira mostra haver apenas uma solução, a de Henrique Meirelles.

Apesar de o contexto brasileiro já ser suficientemente complicado, a morte de Teori Zavascki não foi motivo de polêmica para os veículos de imprensa estrangeiros. O fato foi apenas reportado. Já a prisão de Eike Batista teve ampla repercussão, pois o empresário era conhecido no mundo todo por ter somado uma das maiores fortunas do planeta.

O judiciário brasileiro há tempos é um dos assuntos mais tratados quando se fala do Brasil, e a indicação de Alexandre de Moraes não passou despercebida. O espanhol El Mundo publicou duas notícias, a primeira afirmando que Michel Temer havia indicado um político da sua confiança para o STF, tomando um caminho diferente do que ele próprio havia anunciado quando afirmou que buscava um nome técnico. Dois dias depois, em 9/2, o jornal publicou a reportagem “um candidato ao Supremo brasileiro plagiou um livro de um ex-presidente do Conselho de Estado espanhol”. A informação é de que o trabalho de Moraes, lançado em 1997, copia trechos inteiros do livro Derechos Fundamentales y Principios Constitucionales , escrito por Rubio Llorente, em 1995.

O francês Le Monde também publicou duas notícias sobre a nomeação de Moraes. A primeira, Indicação controversa de um novo juiz para a corte suprema do Brasil, que destaca o título de um texto postado pelo cientista político Carlos Melo, “pobre país”. A segunda reportagem retoma a afirmação feita pela revista Época de que a nomeação de Moraes para o Ministério da Justiça foi um “erro de casting”. A reportagem ainda afirma que Alexandre de Moraes é descrito como truculento e autoritário, além de citar a suspeita de que, em 2004, ele tenha defendido a prática de tortura diante de alunos de Direito da USP.

A cobertura sobre a ascensão da direita populista foi a mais interessante, reveladora e reflexiva. O tema surge de duas formas diferentes, a primeira, pelo início do mandato de Marcelo Crivella. Em 5 de janeiro, o jornal francês Libération publicou a reportagem O ‘reino de Deus’ se instala no Rio, na qual analisa o crescimento da influência das igrejas evangélicas pentecostais. A publicação lembra que hoje são 43 milhões de fiéis (22% da população) acreditando em um discurso pregador de uma moral sexual conservadora e de valores da família tradicional, que divide a sociedade entre pessoas do “bem” e do “mal”. A propagação dessas ideias se dá pelo império midiático que as igrejas construíram e é reforçada na agenda política pelos 88 deputados e três senadores da bancada evangélica.

A pesquisadora da UFRJ, Maria das Dores Campos Machado, analisa a força desses cultos: “a esquerda não chega a mobilizar as camadas populares, como o forte imaginário religioso. As igrejas evangélicas preencheram o vazio. Elas funcionam como local de escuta e sociabilidade em bairros desprovidos de tudo. Os fiéis, frequentemente as mulheres, obtêm a força para enfrentar a adversidade”. O sociólogo Rudá Ricci complementa sugerindo que esses religiosos vivem um pouco fora da realidade, reféns da teoria da prosperidade pregada pelos pastores: “Eles prometem a esses que pagam o dízimo que vão ser recompensados ficando ricos. Numerosos fiéis atribuem a melhora de suas condições de vida não às políticas públicas, mas ao bom Deus”.

A segunda reportagem foi publicada no final de janeiro com a divulgação do índice de percepção da corrupção por país, organizado pela ONG Transparência Internacional, e aponta que a ascensão de políticos como Crivella, da direita populista, está ligada aos escândalos de corrupção e à existência de desigualdades sociais, o que forma um terreno fértil para os seus discursos. No dia 25 de janeiro, o artigo “A corrupção é o roubo”, publicado no Le Monde, propõe que a intolerância das classes médias com a corrupção seja resultado da globalização, que teria aberto os horizontes dessas parcelas. O texto lembra movimentos ocorridos no mundo árabe, na Islândia, no Brasil, na Coreia do Sul e na Romênia. No entanto, alerta que as classes médias ainda irão perceber que aqueles em quem decidiram confiar e que prometeram protegê-las, na verdade, as enganaram. E que esses, responsáveis por semear a desconfiança no seio do eleitorado, serão dos movimentos “faxinistas” que estão em voga.

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