Crescimento econômico no Brasil segue em trajetória recessiva, sem grandes indicações de que pode passar por uma reviravolta nos próximos meses

Ano 1 – nº 07- Setembro 2016

Nível de atividade

O crescimento econômico no Brasil segue em trajetória recessiva, sem grandes indicações de que pode passar por uma reviravolta nos próximos meses. Os dados divulgados sobre a produção industrial e a venda de veículos de agosto apontam para um mês muito negativo para o nível de atividade do país, com quedas significativas que podem afetar a possibilidade de recuperação econômica no terceiro trimestre do ano.

Os dados da produção industrial em agosto apontam para uma queda importante na indústria. O IBGE revelou uma diminuição de 3,8% na produção da indústria nacional em agosto, na comparação com julho. Tal variação negativa interrompe uma sequência de cinco meses de crescimento, período em que acumulou aumento de 3,7%. A contração do mês de agosto é a mais significativa desde janeiro de 2012, quando a produção industrial recuou 4,9%.

Já a venda de veículos apresentou queda ainda mais acentuada, recuando 13% no mês de setembro em relação ao mês de agosto, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). No acumulado do ano, a venda de veículos novos caiu 22,7% na comparação com o mesmo período de 2015, o que indica uma contínua desaceleração da demanda, seja por causa da queda da renda e dos salários, seja pelo encarecimento e escassez de crédito. A produção de veículos também recuou 3,9% no período segundo dados divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantesde Veículos Automotores (Anfavea), confirmando que a estabilização da atividade ainda não é uma realidade. No acumulado do ano, a produção de veículos registra queda de 18,5% em relação ao mesmo período do ano anterior.

A melhoria dos índices de expectativas continua sem encontrar fundamento nos índices da situação atual, o que pode gerar uma rápida reversão nos indicadores agregados de confiança caso elas não se confirmem nos próximos meses. Além disso, o impulso do setor externo vem arrefecendo, em virtude do câmbio mais valorizado, o que reduz o nível de crescimento das exportações e aumenta o nível de importações.

Essa conjunção de dados e fatores aponta para um terceiro trimestre de nova queda do PIB, sem clara sinalização de estabilização no curto prazo. A promessa de que a mera mudança de governo e a consequente melhoria dos indicadores de confiança trariam os investimentos, empregos e crescimento de volta se prova falaciosa. Com a falta de fontes de demanda interna, a desaceleração do setor externo e a promessa de queda dos investimentos públicos, as expectativas para a retomada da atividade se mostram cada vez mais distantes, com a estabilização da atividade nos níveis atuais (com elevado desemprego e baixa renda) sendo a mais ousada aposta que se pode fazer com os dados disponíveis.

Comércio Exterior

O saldo da balança comercial em setembro apresentou superávit de US$ 3,803 bilhões frente a um saldo de US$ 2,946 bilhões no mesmo mês de 2015. As exportações registraram US$ 15,790 bilhões, o que representa um recuo de 2,2% no valor quando comparado com o ano passado. Deste valor, US$ 6,548 bilhões (-8,6%) correspondem a exportação de produtos básicos, US$ 2,728 bilhões (19,8%) a produtos semimanufaturados, US$ US$ 6,136 bilhões (-3,1%) a produtos manufaturados.

Boletim de Análise de Conjuntura Economia 8

Pelo lado das importações, o montante ficou na ordem de US$ 11,987 bilhões, apresentando queda de 9,2% frente ao mesmo mês de 2015. Deste montante, US$ 1,224 bilhão (-28,3%) é referente ao grupo de bens de capital, US$ 7,767 bilhões (-2,3%) a bens intermediários, US$ 1,984 bilhão a bens de consumo (-10,1%) e US$ 1,091 bilhão (-23,7%) a combustíveis e lubrificantes.

Em uma ótica do saldo acumulado, a balança comercial registrou superávit de US$ 36,175 bilhões. No mesmo período de 2015, a balança comercial obteve um superávit de US$ 10,252 bilhões. Cabe notar, que as exportações, em 2016, registraram o valor de US$ 139,361 bilhões, ou seja, queda de 4,6% frente a 2015. As importações, por sua vez, somaram US$ 103,186 bilhões, retração de 23,9% sobre igual período do ano passado.

A média diária das exportações atingiu US$ 751,9 milhões (2,2% inferior ao mesmo mês do ano passado), enquanto importações registraram US$ 570,8 milhões (queda de 9,2% quando comparado como mesmo mês de 2015). A média diária do saldo comercial no mês foi US$ 181,1 milhões, 29,1% maior que o do último mês de setembro, de US$ 140,3 milhões.

O que a análise acima mostra, particularmente, é a forte retração das importações. Esta pode ser tanto consequência do arrefecimento do quadro de crise econômica, quanto um reflexo da forte apreciação da taxa de câmbio dos últimos meses, que retirou força do processo de substituição de importações da economia e, ademais, solapou uma importante fonte de dinamismo das exportações.

Política Monetária e Inflação

Segundo o IBGE, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o mês de setembro apresentou crescimento de 0,08%, ou seja, quase não houve aumento dos preços na economia. Tal resultado veio abaixo do esperado pelo mercado. Cabe destacar que essa foi a menor taxa para o mês desde 1998 (-0,22%). Esta também foi a taxa mensal mais baixa para um IPCA desde a alta de 0,01% em julho de 2014. O índice acumula alta de 5,51% nos primeiros nove meses do ano, ante 7,64% no mesmo período do ano passado. No acumulado em doze meses, houve desaceleração de 8,97% para 8,48%.

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A desaceleração da inflação se deu, sobretudo pela deflação em Alimentos, Artigos de residência e Transportes. Alimentação e bebidas desaceleraram de 0,30% no mês anterior para uma deflação em 0,29%.
Neste grupo, o IBGE destaca a deflação observada em leite longa vida, recuo dos preços em 7,89% no mês e contribuiu 0,10 ponto percentual (p.p.) para redução do índice. Diferentemente, no subgrupo Alimentação fora do domicílio ocorreu uma aceleração dos preços. Ou seja, o aumento dos preços foi de 0,18% no mês anterior para 0,33% em setembro. No acumulado, o grupo de Alimentação e bebidas já expõem uma alta de 8,80%, em doze meses o número atinge 13,31%.

Artigos de Residência apresentou deflação de 0,23% no mês. Com destaque para a queda nos preços de móveis (de +0,07% para -0,65%) e aparelhos eletroeletrônicos (de +0,85% para -0,41%). Outro grupo que apresentou deflação foi o de transportes, passando de uma inflação de 0,27% para uma deflação de 0,10%.
Neste, as passagens aéreas continuam a apresentar queda dos preços. No mês de agosto foi de 3,85%, e, em setembro, de 2,39%. Ademais, em setembro, automóveis usados registraram queda de 1,50% nos preços.

Outros grupos que também desaceleraram, embora em menor medida, foram Educação (de 0,99% para 0,18%), Despesas pessoais (de 0,96% para 0,10%) e Saúde e cuidados pessoais (de 0,80% para 0,33%).

Apenas três grupos apresentaram aumento dos preços, Habitação (de 0,30% para 0,63%), Vestuário (de 0,15% para 0,43%) e Comunicação (de -0,02% para 0,18%). Em habitação, a aceleração se explica em grande medida pelo aumento do gás de botijão e energia elétrica residencial. Destaca-se também o comportamento de condomínio, com alta de 0,74% para 0,91%.

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Nos preços administrados o aumento foi de 0,26% para 0,37%, em grande medida devido à elevação dos preços do gás de botijão, energia elétrica residencial e etanol. No acumulado de doze meses, o aumento dos preços deste grupo desacelerou de 8,47% para 7,88%. Nos preços livres, a variação de agosto de 0,49% passou para quase estabilidade no mês de setembro (0,005%). Assim, tanto em tradables quanto em non-tradables houve uma expressiva desaceleração da inflação no mês. A inflação de 0,08% do IPCA de setembro é em grande medida advinda dos preços administrados.

Indústria

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a produção da indústria nacional diminuiu 3,8% em agosto, na comparação com o mês anterior. Tal variação negativa interrompe uma sequência de cinco meses de crescimento, período em que acumulou aumento de 3,7%. A contração do mês de agosto é a mais significativa desde janeiro de 2012, quando a produção industrial recuou 4,9%. Cabe lembrar que em julho deste ano a produção industrial já ensejava um crescimento muito modesto, de 0,1% em relação a junho.

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O IBGE destaca o desempenho negativo em produtos alimentícios (-8,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (-10,4%), indústrias extrativas (-1,8%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,9%), perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (-2,8%) e produtos de minerais não-metálicos (-5,1%). Em alta no período, destaque para os produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+8,3%).

Em uma análise do acumulado dos oito primeiros meses do ano, a produção industrial caiu 8,2% em relação ao mesmo período de 2015. Nesta base de comparação todas as categorias registram deterioração, com destaque para a retração de 15,8% nos bens de capital. Cabe destacar, ainda, a variação negativa das indústrias extrativas (-13,1%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-18,8%).

Diversos trabalhos têm mostrado o momento delicado da indústria brasileira, sobretudo no que tange o seu nível de endividamento. A crise econômica que se arrasta por vários anos afetou não somente o estado de expectativas da economia. Na realidade, se espraiou comprometendo a situação financeira das empresas não financeiras, sobretudo em setores intensivos em capital. A interrupção dos investimentos públicos e das empresas estatais, aliado ao ajuste recessivo no âmbito fiscal e monetário, afetou significativamente a capacidade de gerar receita destas atividades industriais. Consequentemente houve um rebate deletério sobre a produção industrial que tem se agudizado em um ambiente de forte volatilidade cambial e altas taxas de juros. Neste cenário, a compressão da renda dos brasileiros e o desemprego se fazem presentes. Dados sobre uma retomada da economia têm sido ambíguos, assim, o segundo semestre de 2016 e o primeiro semestre de 2017 ainda deverão ser complicados para o povo brasileiro.

Conclusão

Apesar da queda da inflação, as variáveis que poderiam ajudar a construir um cenário de retomada da atividade não se confirmaram. A produção industrial caiu em agosto, com indicadores antecedentes pouco animadores para o mês de setembro. O setor externo segue no positivo, mas o ritmo de crescimento das exportações parece estar passando por uma desaceleração, graças à recente valorização cambial. Por fim, os indicadores de crédito e emprego disponíveis não apontam para uma recuperação do mercado interno, assim como os dados sobre investimentos públicos não ajudam aqueles que defendem que “o pior já passou”.

A boa notícia do mês fica por conta da desaceleração da inflação, que pode levar o Comitê de Política Monetária (Copom) a iniciar um ciclo de queda na taxa de juros já em sua próxima reunião. A queda dos juros, no entanto, leva um tempo prolongado para fazer efeito na atividade econômica, em particular se for feita de maneira gradual, como deve ser a escolha do atual Banco Central. Dessa forma, podemos esperar por vários meses de baixa atividade, alto desemprego e queda da renda salarial nos próximos tempos.

 
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