Contraditório que a primeira-dama se preocupe com as crianças quando seus pais perdem emprego e direitos
Ano 4 – nº 358 – 10 de outubro de 2016
O discurso da primeira-dama e a volta do assistencialismo no Brasil
Há uma semana fomos impactados pelo discurso de Marcela Temer, empossada como embaixadora do Programa Criança Feliz. O impacto não se deve a um estado de admiração pelo programa ou pela ação da esposa do atual presidente, mas sim, ao retrocesso que esta atitude representa!
Sobre este tema, duas questões devem ser levantadas para reflexão: em primeiro lugar, devemos ressaltar que este programa nos remete a um passado não tão distante em nosso país, o tempo em que a questão social era tratada não como política pública, mas como caridade praticada geralmente por pessoas das camadas sociais mais ricas. No plano governamental, a questão era encabeçada pelas primeiras damas, que se comprometiam a atuar voluntariamente nas causas sociais.
Além de relegar a questão social a um plano distante da atuação efetiva do Estado na solução dos problemas sociais, este modelo traz uma falsa crença de que existe um cuidado com o problema – a armadilha é que se trata de um cuidado amenizador, que não pretende solucionar os problemas, mas maquiar seus efeitos. É assim com este programa da primeira-dama que, além de bastante confuso em sua proposta (cuidados com a primeira infância? De que tipos de cuidados ela estaria falando? E de que maneira o governo iria atuar nesta proposta?), não se está de acordo com os rumos que a política econômica e social vêm tomando no país, marcadas pelo retrocesso e perdas de direitos, em um cenário de proposta de política econômica marcada pela austeridade.
Ou seja, é bastante contraditório que a primeira-dama esteja preocupada com as crianças, em um país em que seus pais perdem seus postos de trabalho e as políticas sociais (especialmente Educação, a Saúde, Previdência e gastos sociais) sofram perdas. Com isso, é possível que este programa seja mais um daqueles inúmeros programas que os governos usem para enganar a população, tentando demonstrar que existe uma preocupação com os mais necessitados, enquanto que, na verdade, se desenvolve uma política para privilegiar uma minoria.
A segunda questão é o machismo implícito nesta proposta. Outra questão bastante pertinente para se refletir.
* As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade de sua autora,
não representando necessariamente a visão da FPA ou de seus dirigentes.
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