Nível de atividade
A atividade econômica no Brasil permaneceu em queda no segundo trimestre de 2016, tendo registrado retração de 0,6% em comparação com o trimestre imediatamente anterior. Este resultado surpreendeu parte dos analistas econômicos, que esperavam os primeiros sinais de recuperação na atividade ainda no segundo trimestre, já majoritariamente marcado pela gestão do governo Temer. Ao invés de se observar uma recuperação, o que os dados mostram é uma continuidade e até um aprofundamento da recessão (que no primeiro trimestre havia registrado queda de 0,4% em relação ao trimestre anterior), o que levou boa parte dos analistas a adiar e alterar suas previsões de retomada do crescimento.
O resultado negativo foi basicamente influenciado pela queda acentuada no consumo das famílias (sob a ótica da demanda) e nos serviços (sob a ótica da oferta). A despesa das famílias apresentou queda de 5% na comparação com o mesmo trimestre de 2015 e de 5,7% no acumulado dos últimos quatro trimestres. Além disso, a queda do consumo do governo (-1,8% no acumulado de quatro trimestres) e o menor crescimento das exportações (7,3% no acumulado de quatro trimestres, contra 8,3% na mesma medida verificada no trimestre anterior) também ajudaram a explicar a queda do PIB no período. Do ponto de vista da oferta, o resultado da produção agropecuária veio abaixo do esperado (-2,4% no acumulado, contra -1% no trimestre anterior) e o setor de serviços aprofundou sua retração, marcando queda de 3,6% no acumulado de quatro trimestres, sendo que no trimestre anterior essa queda era de 3,2%.
Do ponto de vista dos subsetores, chama atenção a queda do comércio (-10,1% na taxa acumulada) e da indústria de transformação (-9,9%), mostrando que tanto varejo como produção industrial seguem em trajetória de desaceleração. A expectativa de que a mudança de governo definitiva iria reativar o circuito dos investimentos privados já não parece tão realista quanto foi vendido por parte da imprensa antes da consumação do impeachment. Atualmente, já fica claro que a recuperação econômica não virá do sucesso de uma nova política econômica, mas que o sucesso da nova política dependerá basicamente da recuperação das taxas de crescimento do PIB e da receita pública. O maior problema, no entanto, persiste: de onde virá o crescimento? Com famílias endividadas e desempregadas, câmbio valorizado (o que limita o crescimento das exportações) e o Estado manietado por propostas de leis que impedem a expansão dos investimentos públicos, a única esperança do atual governo é que os empresários milagrosamente decidam investir, mesmo sem ter certeza da origem da demanda por seus produtos. Não à toa a ênfase do governo atual em acelerar as privatizações, na vã esperança de que investidores estrangeiros comprarão nossos ativos (públicos) e farão os investimentos necessários, mesmo que o passado tenha provado que essa hipótese é pouco realista.
Comércio Exterior
De acordo com dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), a balança comercial brasileira teve um superávit de US$ 4,14 bilhões em agosto. No acumulado deste ano, a balança registra um superávit de US$ 32,3 bilhões. Informações divulgadas pelo governo revelam a expectativa de que a balança comercial feche o ano de 2016 com um superávit entre US$ 45 bilhões a US$ 50 bilhões. Na mesma linha, o Banco Central projeta que o saldo ficará positivo em US$ 50 bilhões.
Fonte: MDIC
O superávit de agosto é fruto do montante das exportações superior às importações. No mês em referência, as exportações somaram US$ 16,99 bilhões, o que representa um crescimento de 0,2% ante o mesmo mês do ano passado e uma queda de 5% na comparação com o mês anterior. Pelo lado das importações, estas somaram US$ 12,85 bilhões em agosto, configurando queda de 8,3% frente ao mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, tanto as exportações quanto as importações apresentaram queda na comparação com o mesmo período de 2015. As vendas para o exterior somaram US$ 123,57 bilhões (média diária de US$ 735 milhões), e as importações, por sua vez, somaram US$ 91,2 bilhões (média diária de US$ 542 milhões). Assim, na comparação com o ano anterior, houve contração de 4,9% das exportações e 25,5% das importações.
Em uma análise setorial, nas exportações, ocorreu aumento de semimanufaturados, mas queda de produtos básicos e produtos manufaturados. No que tange às importações, houve queda nas compras de bens de consumo, de bens intermediários e de bens de capital. Infelizmente, o saldo positivo na balança comercial tem se dado muito mais por uma contração das importações, fruto da recessão econômica do que de um maior dinamismo pelo lado das exportações em mercados internacionais. É necessária uma menor volatilidade cambial e uma redução das taxas de juros para que se viabilize o investimento produtivo. No ano, o real encabeça a apreciação frente ao dólar quando a comparado a todas as moedas mundiais. Isso somado a uma das maiores taxas de juros do mundo tende a inviabilizar a retomada da economia.
Política Monetária e Inflação
Segundo dados do IBGE, a inflação mensurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou variação mensal de 0,44% em agosto. Em julho a alta havia sido de 0,52%, de forma que a inflação perdeu força quando comparada com o mês anterior. No entanto, ela está acima do registrado no mesmo período do ano passado. Ou seja, em agosto de 2015, o aumento da inflação havia sido de 0,22%. No acumulado do ano, o aumento registrado é de 5,42%, abaixo dos 7,06% apurados no mesmo intervalo do ano anterior. Em doze meses, a inflação foi de 8,97%, superando os 8,74% registrados em igual período do ano anterior, ficando assim, ainda acima do teto da meta de inflação do Banco Central, de 6,5%.
Fonte: IBGE Em agosto, o grupo alimentação e bebidas foi o que mais contribuiu para que a inflação perdesse força, expondo um recuo de 1,32% para 0,30% no mês analisado. Por exemplo, o feijão carioca e a batata inglesa que forçaram alta dos alimentos nos meses anteriores cederam respectivamente em seus preços 5,6% e 8%, o que traz boas notícias para a mesa dos brasileiros. Outros itens que tiveram um avanço menor da inflação foram os relacionados a transportes, que recuram de 0,4% para 0,27%. Isso porque, nas passagens aéreas, houve uma redução média de 3,85% dos preços. Desacelerações representativas também ocorreram em artigos de residência (de 0,53% para 0,36%) e comunicação (de 0,02% para -0,02%).
As frutas, por outro lado, tiveram alta de aproximadamente 5%. Preços relativos a produtos ligados a educação subiram de 0,04% para 0,99%, e despesas pessoais de 0,7% para 0,96%. Produtos relacionados à educação sofreram inflação, sobretudo devido ao início do segundo semestre do ano letivo. No caso de despesas pessoais, o item que mais impactou o grupo foi o aumento dos preços das diárias de hotel, que cresceram 11,58%. Devido às Olimpíadas, no Rio de Janeiro, o aumento dos preços dos hotéis foi da ordem de 111,23%. Nestes últimos itens, o aumento dos preços foi puramente sazonal e não deve voltar a ocorrer, pelo menos na mesma proporção, nos próximos meses. Em suma, apesar da inflação ainda estar acima da na meta do Banco Central, a expectativa é de arrefecimento nos próximos meses.
Tabela 1 – Resultados dos grupos de produtos e serviços pesquisados
Fonte: IBGE
Conclusão
Podemos observar que o processo recessivo na economia brasileira não cessou, apesar de poder apresentar uma desaceleração cíclica nos meses vindouros. Afinal, é pouco provável que a economia siga em retração por muito mais tempo, tendo em vista até mesmo a necessidade das empresas de permanecerem abertas, mesmo que em níveis de produção mínimos. Ademais, as promessas de privatização podem gerar excelentes oportunidades de negócios para investidores internacionais, mas não apontam para a recuperação do emprego nem para a retomada rápida do nível de investimento da economia brasileira.
As medidas macroeconômicas que poderiam ser adotadas para acelerar a retomada, como a queda dos juros, a manutenção de uma taxa de câmbio desvalorizada e estável e o aumento do investimento público, estão limitadas pela visão ideológica neoliberal dos formuladores de política econômica. Toda sua aposta segue na destruição do papel do Estado no longo prazo, nas privatizações e na deterioração dos serviços públicos, com redução de direitos trabalhistas e previdenciários. Em sua concepção, o governo Temer acredita que passando a “conta” do ajuste recessivo para os trabalhadores, os empresários irão se animar e se responsabilizar sozinhos pela retomada das taxas de crescimento e investimento na economia brasileira. Essa ilusão, baseada mormente na expectativa de retomada da confiança empresarial, pode gerar grandes negócios para investidores estrangeiros, mas dificilmente (mesmo que bem sucedida) gerará a estrutura de emprego, renda e serviços públicos que a população brasileira deseja.
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