A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016 impõe um limite para o aumento do gasto público federal ao instituir um “regime fiscal excepcional” no país: impõe que só é possível a correção das despesas primárias (que é, em linhas gerais, o conjunto de gastos que possibilita a oferta de serviços públicos à sociedade) pela inflação (medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o que congelaria seu limite máximo ao patamar executado em 2016, ano já de adoção do ajuste fiscal e consequente corte de gastos. A justificativa para instituir tal regime fiscal seria de que há uma deterioração das contas públicas. Apesar de provocar, na prática, uma redução do gasto social federal ao longo dos anos, o que prejudicaria milhões de brasileiros, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/16.
O parecer do relator na CCJ aponta que não há como “concluir que o acesso dos cidadãos aos serviços públicos em discussão será prejudicado, mesmo porque se a crise econômica persistir (e a crise fiscal é, sem dúvida, o núcleo desta crise econômica), a arrecadação tributária será comprometida, reduzindo as fontes de recursos atualmente existentes”. No entanto, com a PEC, os gastos federais com saúde e educação, por exemplo, atualmente vinculados a percentuais mínimos da receita, deixariam de variar conforme as receitas. Na prática, a manutenção do limite máximo de gastos ao nível de 2016 (somente corrigido pela inflação) significa a diminuição do gasto per capita ao longo do tempo. Ou seja, no longo prazo a PEC acarreta uma piora do acesso aos direitos sociais, já deficientes no Brasil.
Uma das áreas mais afetadas, segundo especialistas, será a educação, e os cortes já se aprofundam: em cenário financeiro grave das universidades federais brasileiras, o governo Temer prevê cortar até 45% dos recursos previstos para investimentos nas universidades federais em 2017, na comparação com o orçamento de 2016. Já o montante estimado para custeio deve ter queda de cerca de 18%, segundo dados publicados no Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle, do Ministério da Educação.
Gráfico 1 – Taxa de desocupação das pessoas de 14 anos ou mais de idade, na semana de referência – Brasil – 2012/2016 (em %)
Fonte: PNADC – IBGE
Mercado de trabalho em deterioração
Os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC/IBGE) reiteram o quadro negativo para o emprego no Brasil: a PNADC referente ao trimestre de abril a junho de 2016 mostra que, confrontando com janeiro a março de 2016 (trimestre anterior), a taxa de desocupação cresceu (0,4 ponto percentual), de 10,9% para 11,3%. Na comparação com abril a junho do ano anterior, subiu três pontos percentuais (p.p.), como mostra o gráfico abaixo.
No trimestre de abril a junho de 2016, havia cerca de 11,6 milhões de pessoas desocupadas (que buscaram emprego, mas não encontraram), aumento de 4,5% frente ao trimestre de janeiro a março de 2016 (eram 11,1 milhões de pessoas). No confronto com o ano passado (8,3 milhões), esta estimativa subiu 38,7%: isto é, há indicativos de que, no último ano, mais pessoas tenham passado a procurar emprego, o que poderia ser explicado por membros da família que estavam fora do mercado de trabalho, mas que com a crise precisaram buscar emprego.
Quanto ao nível da ocupação (total de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar), este foi estimado em 54,6%, permanecendo estável frente ao trimestre anterior. Em relação a igual trimestre do ano anterior, este indicador apresentou retração de 1,6 p.p., quando passou de 56,2% para 54,6%. Já o contingente de pessoas ocupadas foi estimado em 90,8 milhões no trimestre de abril a junho de 2016. Essa estimativa representou estabilidade quando comparada com o trimestre de janeiro a março de 2016. Em comparação com igual trimestre do ano passado, foi registrada queda de 1,5% (era de 92 milhões).
Destaca-se que um dos setores com crescimento é o dos trabalhadores domésticos: 6,2 milhões de pessoas, estável em relação ao trimestre anterior e com elevação de 3,7% frente ao ano anterior, representando expansão de 224 mil pessoas nesta forma de inserção. Destaca-se ainda que, na comparação com o trimestre de abril a junho de 2015, foi observada redução nos grupamentos Indústria Geral, 11% (-1,4 milhão de pessoas) e Informação, Comunicação e Atividades Financeiras, Imobiliárias, Profissionais e Administrativas, 10% (- 1,1 milhão pessoas).
Ainda, o rendimento médio real habitualmente recebido em todos os trabalhos pelas pessoas ocupadas foi estimado em R$ 1.972, registrando queda de 1,5% frente ao trimestre de janeiro a março de 2016 (R$ 2.002) e de 4,2% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior (R$ 2.058). E a massa de rendimento real habitualmente recebido em todos os trabalhos pelas pessoas ocupadas foi estimada em R$ 174,6 bilhões de reais, apresentando queda de 1,1% em relação ao trimestre de janeiro a março de 2016, e de 4,9% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.
Já os dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged) mostram que foram destruídos em junho 91 mil postos de trabalho formais, sendo cerca de 28 mil na construção, 31 mil na indústria, setenta mil nos serviços e criados 38 mil na agricultura (porém, descartada a sazonalidade, na média anual, o saldo é praticamente zero). Na indústria, quase todos subsetores tiveram saldo negativo na criação de empregos formais, tendo a indústria metalúrgica e indústria mecânica queda de 0,8% no número de empregados em junho (totalizando perda de nove mil empregos).
Interesses políticos têm levado certos setores sindicais a se aproximar ou se afastar do governo interino, embora, para o conjunto dos trabalhadores, faça sentido a pressão coletiva ao governo pelo comprometimento com a geração de emprego e renda, no quadro atual de deterioração do mercado de trabalho, e contra as reformas trabalhista e previdenciária.
Para ler mais:
PNADC trimestre encerrado junho 2016
90 dias de desgoverno golpista
Comissão do Congresso retira ‘distribuição de renda’ das metas do governo
CCJ aprova admissibilidade de PEC que limita gastos públicos federais por 20 anos
Universidades federais devem ter corte de até 45% nos investimentos
Ameaças da reforma previdenciária do governo Temer
|