Eleições na Turquia
Pela segunda vez em cinco meses, a Turquia realizou eleições parlamentares para formar um novo governo. Em junho, o partido Justiça e Desenvolvimento/AKP, do atual presidente Recep Tayyip Erdogan, havia perdido a maioria parlamentar pela primeira vez desde 2002. Naquela mesma eleição, o Partido Popular Democrático (HDP) – apoiado por movimentos de esquerda, incluindo setores que se mobilizaram no Gesi Park e na Praça Taksim, e pela minoria curda – elegeu representantes pela primeira vez. Frente à impossibilidade de se formar um governo de coalizão e ao interesse do AKP de realizar uma nova consulta para tentar retomar sua maioria, novas eleições foram realizadas no último domingo, 1º de novembro.
Contrariando as pesquisas de opinião, o AKP retomou sua maioria parlamentar nas eleições deste domingo, ao conquistar 49,4% (nove pontos acima da votação obtida em junho), o que garante 316 parlamentares (de um total de 550). O CHP (social-democrata, kemalista) manteve sua votação, em torno de 25%. O MHP (nacionalista, de extrema direita) diminuiu sua votação em quase cinco pontos percentuais, ficando com 11,9% dos votos. O HDP, única força de esquerda no Parlamento (com pautas progressistas ligadas não só aos curdos, mas também aos direitos das mulheres e da comunidade LGBT), perdeu cerca de 2% de votos, mas o percentual alcançado no domingo, 10,7%, foi suficiente para ultrapassar a alta cláusula de barreira do sistema político turco pela segunda vez. Apesar de ter ficado em quarto lugar, a concentração geográfica de votos do HDP no sistema distrital do país permitiu que o partido tenha a terceira bancada no Parlamento, com 59 representantes.
A campanha foi marcada pela escalada da violência contra os curdos, tanto militarmente contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), com o rompimento do cessar-fogo por parte do governo, quanto com denúncias de perseguição e prisões de militantes de esquerda e de ataques a seus meios de comunicação. Em outubro, um atentado atribuído pelo governo ao Estado Islâmico, mas ainda sem investigações conclusivas, causou a morte de mais de 100 pessoas durante um protesto pacífico. Com o clima de violência, a campanha do AKP mobilizou o discurso nacionalista e a narrativa de estabilidade e segurança dos anos anteriores. A última semana de campanha também assistiu a visitas de líderes europeus, incluindo a chanceler alemã Angela Merkel, que esperam com o fortalecimento do presidente Erdogan um maior papel da Turquia na contenção da onda de refugiados sírios para a Europa.
Embora o resultado seja uma clara vitória do presidente Erdogan, não garante a maioria qualificada de 330 parlamentares para realizar mudanças constitucionais rumo a um sistema presidencialista com maior poder para o Executivo. O resultado deve manter a política externa turca que atualmente tem no conflito sírio seu maior foco. Por um lado, a Turquia se alia aos EUA na derrubada do governo Assad, mas também persegue objetivos próprios, ao dirigir seus esforços na Síria contra os curdos.
China anuncia seu próximo plano quinquenal
Após a reunião plenária do Comitê Central do Partido Comunista Chinês na semana passada, o presidente Xi Jinping divulgou nesta terça-feira os pilares do próximo plano quinquenal, que deve ser aprovado pela Assembleia Nacional Popular em março e guiar a política chinesa até 2020. As diretrizes anunciadas incluem: dobrar o PIB do país até 2020 (tendo como referência o ano de 2010), manter uma taxa de crescimento de 6,5% ao ano, promover a liberalização gradual do yuan e uma abertura relativamente maior do setor de serviços aos investimentos externos. Do ponto de vista social, as diretrizes incluem o fim da política do “filho único” e a ampliação do acesso a serviços básicos para a população migrante do campo para as grandes cidades.
Após um longo ciclo de crescimento chinês baseado nas exportações de produtos manufaturados (que movimentou significativamente a importação de commodities da América Latina), as iniciativas anunciadas para o plano quinquenal confirmam as expectativas de uma mudança gradual, rumo a um modelo que amplia o papel do consumo interno e do setor de serviços. Neste cenário, a “nova normalidade” – crescimento relativamente mais baixo que as taxas de dois dígitos registradas no período anterior – deve seguir impactando o crescimento nos países da América Latina.
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