Artigo de Fernando Costa: Renda do Capital versus Renda do Trabalho
A renda do capital financeiro multiplicou seu poder aquisitivo em 3,2 vezes e a renda do trabalho perdeu 16,6% do seu poder aquisitivo
Por Fernando Nogueira da Costa
No período 1995-2002, o juro nominal elevou-se 24,6%, em média anual, face a uma taxa de inflação média de 9,1%, resultando em uma elevação média anual do juro real de 15,1%. O rendimento médio real dos trabalhadores teve uma queda anual média de -1,05% aa. A renda do capital financeiro multiplicou seu poder aquisitivo real em 3,2 vezes. Enquanto isso, a renda do trabalho perdeu 16,6% do seu poder aquisitivo.
Entre 2002 e junho de 2015, o crescimento médio anual do juro nominal foi mais do que o dobro do IPCA: 13,2% aa contra 6,1% aa. Desde 2005 até 2014, a taxa de inflação ficou dentro do teto da meta de 6,5%. Mesmo assim, em todo o período considerado (2003-jun/2015), a política de juro concedeu um juro real médio anual de 6,6% aos investidores. Em contrapartida, as variações do salário real restringiram-se à média anual de 1,3%. Então, foi 5 vezes maior o crescimento real da renda do capital do que o da renda do trabalho.
Confira na Tabela abaixo.
Conclusões
Constata-se sempre a posteriori um exagero do juro nominal ex-post, isto é, deflacionado pelo IPCA. Evidentemente, ele tem um impacto distinto do juro real ex-ante (esperado) que influencia as decisões na época de sua fixação. Na Era Neoliberal, foi 2,7 vezes maior do que a taxa de inflação média. Na Era Socialdesenvolvimentista foi 2,2 vezes maior.
A queda do salário real na Era do Livre-Mercado (sic), foi de -17%, ou seja, percentual igual e contrário ao da sua elevação de +17% na Era da Hegemonia Trabalhista.
Fernando Nogueira da Costa é professor titular do IE-Unicamp. Autor do livro Brasil dos Bancos (Edusp, 2012). http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/ E-mail: [email protected]
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